segunda-feira, 16 de maio de 2016

PARA MIM, A PUBLICAÇÃO TRADICIONAL SIGNIFICA POBREZA. MAS AUTOPUBLICAR-ME? SEM CHANCE!





Traduzido por mim -- que, aliás, me autopublico! ;) É um artigo exagerado, quase uma caricatura, mas tem reflexões válidas. Uma coisa, porém, eu digo: se é impossível viver da escrita sendo autopublicado, como ele atesta, manter seus manuscritos recusados por editoras numa gaveta tampouco lhe trará um tostão!
(O link para o texto original segue ao fim da tradução).


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Para mim, a publicação tradicional significa pobreza. Mas autopublicar? Tô fora!
A vida como escritor profissional é financeiramente deprimente, e muitas vezes fui aconselhado a me autopublicar. Aqui vai por que não o faço:
Uns anos atrás, postei no meu blog detonando o mito do escritor rico, e pondo as cartas na mesma sobre quanto um escritor de fato recebe quando você compra o livro dele. A resposta simples para a maioria de nós é "nada", após aquele adiantamento pago pelas editoras (no caso de meu mais novo romance, $ 5.000,00 -- por dois anos de trabalho!)
O blog foi bastante compartilhado nas redes sociais, tendo sido visto por quase 10.000,00 pessoas na primeira semana. O choque, concordância e comiseração foram seguidos por conselhos para que eu me autopublicasse.
Eu sei que autopublicação está super na moda. Mas me dizer para me autopublicar é como dizer ao Luke Skywalker que vá para o lado negro da força. Apesar dos royalies de 70%, acho que é uma péssima ideia para romancistas sérios (romancistas que levam a escrita a sério, e amam escrever). Aqui o porquê:
--> Você tem que esquecer-se da escrita para sobreviver:
Se você se autopublicar, você não conseguirá se manter escrevendo. Você vai viver fazendo publicidade. Autores autopublicados passam em média 10% do tempo escrevendo, 90% fazendo autopublicidade. O autor autopublicado que veio até meu blog pregar seu evangelho, alegando renda mensal de cinco dígitos com a venda na Amazon de seus onze romances, admite quão pouco tempo passa escrevendo. Se lhe parece divertido, vá em frente. Mas se sua paixão é criar mundos e personagens, contar grandes histórias, ou deleitar-se na escrita, você deve almejar a publicação tradicional.
--> Autopublicação pode fazê-lo comportar-se como um tolo:
Imagine que acabamos de nos encontrar. Eu o convido até minha casa e a primeira coisa que você faz é me mostrar o blurb promocional de seu livro e insiste que eu o procure na Amazon. Então você lê para mim o blurb do livro de outra pessoa, cujo livro você concordou em anunciar se ela fizesse o mesmo pelo seu. Aí você me conta quantos amigos você perdeu hoje, e que dá para descobrir quantos amigos perdeu usando o aplicativo tal e tal. Aí você enfia uma resenha do seu livro sob o meu nariz. Isso só nos primeiros dez minutos. Isso me leva a concluir que você é um escritor bem sucedido, cujos livros eu deveria comprar? Ou um ególatra desesperado sem consideração pelos outros? Um que nem consegue concatenar frases, já que todas elas são sequências de hashtags.
Deixo de seguir escritores cujas postagens são 90% anúncios, da mesma forma que não ligo a tv em canal de vendas. A maioria dos autores independentes tem mais de 90% de postagens promocionais, talvez mero reflexo de que passam 90% do seu tempo anunciando. Certamente a autopublicação não parece a rota para o Eldorado. Quer juntar-se ao time?
--> Os "porteiros" das editoras lhe protegem de seu próprio ego:
Imagine que você é um marceneiro. Você observa alguns armários, lê alguns livros a respeito, pratica o jargão. Então, cheio de esperança, pega alguma madeira e se lança ao trabalho. Mas você é novato, seu kit é de iniciante. Na sua ignorância, a madeira que você escolhe é imprópria. E essas dobradiças exigem precisão, hein? Essa coisa de marcenaria é difícil! Ainda assim, com persistência e esforço, você termina seu armário. Ele capenga um pouco. As gavetas travam. O acabamento não é perfeito. Mas, ei!, é um armário! Você tenta vendê-lo a lojas de móveis e todas educadamente recusam. Então você tenta vender por contra própria? Ou dá um suspiro e começa de novo, tentando fazer melhor desta vez?
--> Bons escritores se tornam bons por se submeterem a um aprendizado. Cuidar de sua formação é importante:
Meu primeiro romance foi meu quarto romance. Foi aperfeiçoado graças aos três anteriores (mais outros dois pela metade) que não chegaram lá (ainda que dois deles tivessem sido reprensetados por agentes conceituados). Sim, pode ser frustrante ver seu bem amado livro (meses ou anos de trabalho) rejeitado pelas editoras tradicionais. Mas se você leva a escrita a sério, você simplesmente se esforçará mais. Investirá mais alguns milhares de horas em sua formação. E quando o tiver feito, ficará bem feliz de que o primeiro romance que você escreveu não tenha sido o primeiro que você publicou, porque agora você estaria envergonhado pelo amadorismo da coisa. Você só será estreante uma vez. Um livro de estreia que chame a atenção é fundamental. Você dificilmente causará uma boa impressão se sua estreia for aquele armário capenga com gavetas que enguiçam.
--> Pode esquecer prêmios e festivais:
Editoras tradicionais são o único caminho para escritos mais artísticos. Com literatura de entretenimento, autopublicação pode torná-lo bem sucedido (se você conseguir constituir um público, se gostar e for bom em publicidade, se tiver sorte). Mas para publicações mais "literárias", o autor depende de ser aclamado pela crítica e pelos prêmios literários para construir uma reputação. Se literatura de entretenimento está para a música pop, escritos mais artísticos estão para a ópera: o público é pequeno, e os meios de alcançá-lo, limitados. Livros autopublicados não têm lugar em grandes prêmios como o Baileys, o Costa e o Man Booker, e chegar a finalista num desses é o único modo de um livro mais artístico tornar-se um best-seller. A chance de um livro autopublicado ser resenhado na imprensa tradicional é a mesma de que meu cachorro não coma uma salsicha. A chance de um autor independente chamado para um dos grandes festivais? A mesma de Donald Trump se desculpar com o México.
--> Você se arrisca a passar por um amador:
Bons escritores precisam de editores ainda melhores. De designers brilhantes para suas capas. Publicitários criativos e bem relacionados. Todas essas coisas são providenciadas pelas editoras profissionais, e o melhor, não lhe custam nada! E eles ainda o pagam! Se um autor independente quiser evitar o aspecto amador, que se prepare para investir pesado em ajuda profissional. Ajuda profissional DE QUALIDADE, não um desconhecido das Filipinas que você achou no Fiverr, nem seu sobrinho que "manja de photoshop". Isso não resultará numa capa com aparência profissional. Isso para não falar em editores, revisores, e do quanto já fui salvo por eles. Oferecer esses serviços para os indies tornou-se um negócio lucrativo. Aliás, muitos indies se viram financeiramente oferecendo estes serviços a outros indies: um novo esquema de pirâmide entre os "autores empreendedores". O que está bem, se você quer trabalhar na indústria do livro. Mas se você quer ser escritor, por que não praticar até escrever algo por que uma editora o pague? E desfrutar do fato de que eles bancam todo o resto.
--> 70% de nada... é nada!

A última limitação que citarei é fiscal. Você pode despender todo esse esforço, fazer toda a publicidade, e ainda não conseguir sobreviver da escrita. Fiona Veitch Smith trocou a autopublicação pela publicação tradicional:
"Não ganho muito como autora publicada por editora tradicional, mas é mais que quando eu era independente. Publiquei sete livros em quatro anos e na época só um deles deu lucro -- menos de $ 100,00. Antes que alguém diga que é porque não trabalhei o suficiente, meus amigos e família, que mal me viram naqueles quatro anos, atestarão que trabalhei MUITO. Tanto que atraí a atenção de duas editoras, que me contrataram (uma, para meus livros infantis; outra, para os adultos). Não suporto mais o sentimento de inadequação quando leio histórias de sucesso dos autopublicados atestando que se eu trabalhasse mais e melhor, fizesse publicidade nas redes sociais, gastasse 90% do tempo me promovendo, e 10% escrevendo -- ah, e me cadastrasse em tal blog e baixasse tal manual -- eu ganharia uma renda mensal de no mínimo cinco dígitos. Mas a verdade é que, das dúzias de independentes que conheço, fui provavelmente a mais bem sucedida."
Ela acabou de vender o direito de tradução para o coreano de seus livros infantis -- outra benesse da publicação tradicional. Editores e agentes têm alcance. Com acesso a redes de distribuição, podem levar livros impressos às livrarias. Podem representá-lo em importantes feiras, vender seu livro no mercado internacional.
Autopublicar-se? Gera barulho nas redes sociais. E websites de "empreendedores" doidos para vender os segredos do sucesso para os "empreendedores aspirantes." Com o Kindle e o Create Space como principal plataforma de venda, continua a enfiar dinheiro nos bolsos da companhia que é a principal responsável por destruir a renda dos escritores, ainda por cima. E não é o caminho da segurança financeira. Para aqueles que ainda preferem uma equipe orquestrada na retaguarda a soprar sozinho o próprio trompete; ou criar uma narrativa a um pequeno negócio; aventuras a anúncios... autopublicação não é a resposta.
http://www.theguardian.com/books/booksblog/2016/mar/21/for-me-traditional-publishing-means-poverty-but-self-publish-no-way#comment-71007994

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