Texto originalmente escrito para meu perfil no facebook no dia 17 de maio.
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Vou tentar não me alongar demais, pois está tarde -- quero só deixar um registro rascunhado aqui antes de dormir.
A primeira vez em que ouvi falar de línguas de sinais para bebês foi na
comunidade Pediatria Radical, do Orkut -- num comentário feito por Thalita Dol.
Estela nessa época já falava muito bem, obrigada, portanto não se
beneficiaria mais de meu novo conhecimento. Nem eu tinha outro herdeiro
em vista. No entanto, armazenei a informação. Agora eu sabia que isso
existia.
Quando engravidei outra vez, lembrei-me imediatamente da
questão da língua de sinais. Baixei vídeos, assisti a alguns com
Estela, minha filha mais velha, que se entusiasmou de imediato -- aliás,
"entusiasmo" é uma característica marcante dela! <3 --, e li sobre o assunto.
Há várias vantagens listadas nos artigos e livros, mas vou tentar me
ater ao que me interessou, aos benefícios que me foram caros, para além
do "aumenta o QI", porque já está dando no saco essa obsessão moderna em
criar mini gênios. A questão da comunicação me cativou bastante. A
possibilidade de dar ao seu bebê um meio concreto, específico, e não
vago como o choro, para lhe comunicar uma necessidade. E, na verdade, ir
além de necessidades, pois nem só delas é feita a vida, não é mesmo? Um
bebê, que antes estaria enclausurado em si mesmo até que pudesse
articular suas primeiras palavras, poderia dividir com a família suas
percepções. Mostrar e nomear algo que lhe chamou a atenção, de que
gostou. A outra vantagem é uma extensão da primeira. Qualquer um que
tenha lidado com crianças já ouviu falar de, ou viveu na pele, os
famosos "terrible two". É a fase das birras. Pois bem, as tais birras
são atribuídas à frustração que a criança sente pelas limitações
impostas por sua precária capacidade de comunicação. Frustrada em não
conseguir transmitir o que quer, começa o chororô. Se sua autonomia
corporal é boa (anda, corre, pula, sobe -- é também a época do início do
desfralde), a capacidade de comunicação é pífia, o que a irrita. A
língua de sinais minimizaria bastante as tais birras, pois ela poderia
comunicar pelo menos o básico -- e, na verdade, além. A terceira
vantagem é algo pessoal, que não necessariamente terá apelo para todos:
meu amor pela linguagem em geral, a curiosidade por uma língua nova.
Quando Eva tinha uns quatro meses, ou mesmo antes, eu comecei a fazer
alguns gestos. Comecei por "mamar", que achei que seria o mais
importante então. Mas era algo errático. Ela era tão pequena, e parecia
tão distante essa possibilidade de que de fato ela fosse se comunicar
comigo por meio daqueles gestos, que, absorta por outras necessidades
mais pungentes de nosso dia a dia, fui aos poucos deixando para lá.
Quando ela tinha uns sete ou oito meses, comprei outro livro -- ou
melhor, comprei um livro, pois o que lera até então fora de artigos
grátis na internet ou amostras grátis de livros na Amazon --, o que me
deu ânimo novo. Com esta idade, oito meses, muitos bebês cujos pais
vinham sinalizando consistentemente já respondiam. Fiquei triste com o
tempo perdido, mas fazer o quê? Além disso, o livro atestava que,
conquanto seu bebê ainda não falasse, ou se ainda tivesse um vocabulário
muito restrito, ainda era tempo de começar.
Tentei ser mais
consistente. Escolhi palavras que eram do interesse imediato de Eva:
mamar, comer, água, avião, gato, peixe. Essas três últimas, porque (1)
volta e meia um avião sobrevoa nossa casa e Eva fica fascinada, (2)
temos em casa três gatas que igualmente a fascinam, (3) ela adora os
peixes do aquário de seus avós paternos. Fiz MUITO o gesto de "avião" e
de "gato" para ela. Fazia dois meses que eu sinalizava com insistência
sem obter qualquer resposta, apesar de perceber que ela prestava
atenção. Semana passada ela começou a apontar para cima SEMPRE que ouvia
o barulho de um avião passando, ainda que estivesse dentro de casa, e
não no jardim, de onde poderia vê-lo. Era alguma coisa, mas não era o
gesto para avião. Estela, por exemplo, com quem nunca utilizei língua de
sinais, fazia "tcha-tchau" com a mão sempre que ouvia um passar, de
tanto que eu lhe dizia, "Olha o avião, vamos dar tchau para o avião,"
sempre que um deles passava.
ATÉ HOJE. Estávamos sentadas no
chão, brincando, quando uma das gatas se aproximou. E Eva simplesmente a
olhou e fez o sinal para gato. Muito naturalmente, e assim sem mais. Eu
não havia feito o sinal, não havia chamado sua atenção para a
aproximação da gata, nada. Foi completamente espontâneo, por iniciativa
dela apenas. Meu coração derreteu! :) Hoje. Aos dez meses e três dias.
Bom, dizem que depois do primeiro sinal, ou seja, depois que a criança
entende as regras do jogo (um sinal = um conceito), é só ladeira acima.
Palavra do dia: ENTUSIASMO.
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