domingo, 15 de maio de 2016

EXPERIÊNCIAS COM O REAL ALCANCE DE E-BOOKS NO BRASIL E COM A DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS GRATUITOS.





Em maio de 2015, publiquei minha primeira obra de ficção na Amazon, o romance "Vale sem Retorno" (nele eu trato da paixão do jovem mago Merlin por sua aluna de magia, Viviane. Fui o mais fiel possível às lendas como relatadas pelo ciclo arturiano na Idade Média).

O texto abaixo é o relato de minhas duas primeiras experiências com campanhas de livros gratuitos na Amazon, assim que o publiquei. À publicação de imediato se seguiram duas campanhas, uma no fim de maio, e outra, quinze dias depois, em meados de junho:

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Dia desses, discutiam, num grupo de escritores de que faço parte, o caso de Nana Pauvolih, que lavou a burra na Amazon mas acabou assinando contrato com editora tradicional. As pessoas questionavam se tinha de fato sido vantajoso, uma vez que se atestava que ela teria chegado a fazer 22 mil reais num único mês na Amazon, e que ganhar isso tudo recebendo apenas 10% do preço de capa de um livro publicado por editora seria bem mais difícil.

Eu já fui muito empolgada com a Amazon. Tenho um livro lá à venda desde 2013 que nunca foi nenhum grande sucesso, mas não me decepcionava com isso porque a temática e o gênero não ajudavam (era um ensaio -- é óbvio que histórias de ficção, ainda mais se forem de fantasia, hot ou histórias de amor adolescente vendem muito mais).

Pois bem. Este mês disponibilizei na plataforma um romance. E, ao tentar promovê-lo, fiquei um pouco decepcionada, pois a impressão que tive foi de que o mercado de e-books no Brasil é bem mais modesto do que a Amazon e congêneres nos querem fazer acreditar. Por exemplo, dia 27/05 deixei o livro grátis por 24 horas. Tive 145 downloads na Amazon Brasil e dez distribuídos por outras lojas. Esses 145 downloads não são um número grande, ok? Mas foi o suficiente para que meu livro passasse várias horas como o primeiro lugar em download de livros gratuitos da Amazon Brasileira -- sim, dentre todas as categorias. Primeiro lugar geral. 145 downloads. Poxa vida, hein? Não achei tão animador assim.

Também recebi algumas mensagens de pessoas dizendo que não faziam ideia de como baixar o livro. Ou seja, pelo visto comprar um e-book ainda é mais difícil que entender grego para muita gente. Outro caso é o seguinte: tive algumas vendas, mas não chegou a dez por cento da quantidade de downloads gratuitos. Parece que todo mundo adora um brinde, mas não se anima a pagar por um e-book, por mais barato que seja. Meu e-book está por seis reais, talvez acima da média para e-book de autora desconhecida. Mas se eu cobrasse dois reais, duvi-dê-ó-dó que eu vendesse mais. As pessoas não querem mesmo é pagar, porque tenho certeza de que quem paga dois, paga seis, se quiser ler o livro. E cobro seis porque só a partir desse valor a Amazon repassa 70% ao autor. Quem cobra abaixo disso só leva 35% -- acho essa restrição uma sacanagem da Amazon, mas essas são as regras por ora.

O fato é que, quando o livro é baixado de graça, mesmo que por muita gente, poucos lêem. Muito mais provável que uma pessoa vá ler um livro em que tenha investido dinheiro que aquele baixado de graça. E digo isso por experiência própria! Afinal, quantos livros já baixei porque, afinal, estavam de graça, e que hoje nem lembro que estão no meu kindle? Enfim, espero que pelo menos uns 10% dos que baixaram leiam, e que desses que lerem, 10% façam reviews, o que me garantiria... uma review!!! (Detalhe: uma moça que baixou leu no mesmo dia, e no dia seguinte já deixou review, então a chance de eu já ter preenchido minha cota é grande, né? Mas aproveito para dizer que se teve um lado bom nessa promoção, foi justamente ter conhecido essa leitora, que se interessou de verdade pelo livro e com quem já troquei várias mensagens! ♥. Outra observação pertinente é que essa matemática aparentemente se confirmou posteriormente com outros títulos, e mesmo com este, à medida que os downloads avançaram com os meses: as reviews correspondem a cerca de 1% dos downloads.)

Para mim, de verdade, a sensação que ficou é a de que e-books ainda são menos populares por aqui do que eu pensava (e olha que desde 2013, desde que comprei meu kindle, eu praticamente só compro e-books -- ou seja, eu, como consumidora, tinha uma ideia muito otimista do alcance destes).

E aí entendo a Nana. Parece que a aceitação de livros impressos ainda é muito maior, mesmo. É isso.

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Quinze dias depois, dois dias de downloads gratuitos, em vez de um só, como em minha primeira tentativa. E levei dois dias para conseguir quase que exatamente o mesmo número de downloads que da primeira vez -- na verdade até um pouco menos: 151 vs. 147. A que atribuo isso? Vamos lá:

-- Pode ter sido mera saturação: foram só quinze dias de intervalo entre as duas promoções. Digamos que quem queria baixar, já tinha baixado. Seria uma interpretação. Por outro lado, se consegui praticamente o mesmo número de downloads, posso também concluir que ainda havia potencial.

-- Uma coisa que acho que me atrapalhou foi que passei os dois dias de duração da promoção viajando. Com isso, interagi menos nos grupos de leitores do Facebook, acompanhei menos de perto as estatísticas, estive menos disponível. Não estava em nenhum rincão longínquo sem acesso à internet, mas sem dúvida acessei a rede menos e por menos tempo do que se estivesse em casa.

-- Se, da primeira vez, consegui ficar por várias horas como o livro grátis mais baixado na Amazon Brasil, dessa vez meu desempenho caiu: minha melhor colocação foi sexto lugar entre os mais baixados, e quinto na categoria "romance."

A concorrência foi bem maior: como era dia dos namorados, acho que meia Amazon resolveu deixar seus livros gratuitos ou no mínimo baixar o preço. Sobressair-se foi mais complicado. Concluí que NÃO é uma boa ideia fazer esse tipo de promoção em datas como dia dos namorados, dia das mães, dia do livro, Black Friday, etc. Não, não vai ajudar a impulsionar seu livro. Tornará você apenas mais um naquele oceano de livros em promoção. Este, creio, foi o maior ensinamento que tirei dessa segunda experiência e repasso a vocês: escolham datas aleatórias para suas promoções, é melhor. Ou datas que tenham a ver com o conteúdo da história (descobrimento do Brasil, dia de algum santo, dia da tapioca, ou sei lá sobre o quê você está escrevendo), e não essas datas em que as promoções pipocam -- você ficará submerso.


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Bem, posto isto no blog em maio de 2016. Faz, portanto, um ano. Pouca coisa mudou. Houve ganhos, claro! :) Obtive mais reviews no site da Amazon (seis, no total), e meu livro ganhou inclusive um prefácio, gentilmente escrito por Ronaldo Trentini. Outras campanhas se sucederam, e em todas consegui um bom número de downloads, mas o feito de mais de 150 cópias em um dia nunca mais se repetiu. E as pessoas, apesar de baixarem a cópia gratuita, compram pouco.

Confesso que, fora das campanhas, por outro lado, pouco divulgo meu livro. Estou tentando aprender como fazê-lo de forma eficaz e simpática, sem ser a chata que empurra seus livros para todo o mundo!

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