sexta-feira, 27 de maio de 2016

ENTREVISTA COM UM ESCRITOR DE RUA

A entrevista abaixo foi publicada em minha página no Facebook em janeiro, portanto, os números já são outros, mas, na essência, é isto aí:

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Há cinco meses, Eduardo Lages passa seus dias escrevendo na Av. Paulista, enquanto vende seu primeiro livro, "Querido Jaime", do qual já vendeu 700 cópias! Na entrevista abaixo, conversamos sobre sua rotina de autor independente. Aproveite! E inspire-se! ;)
("Querido Jaime" pode ser comprado como e-book no site da Amazon. Para cópias físicas, encontre-se com o autor na Av. Paulista, número 2000, e aproveite para bater um papo! Ou entre em contato com ele pelas redes sociais, que ele envia o livro para todo o Brasil via correios.)


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ENTREVISTA COM EDUARDO LAGES, ESCRITOR DE RUA

Desde quando você é escritor de rua? Como surgiu essa ideia?
Sou escritor de rua há cinco meses. A ideia surgiu quando vi que seria muito difícil publicar por vias convencionais, então decidi que ia tentar vender meu livro na rua :)

Ainda enquanto escrevia seu primeiro livro, você já planejava vendê-lo nas ruas uma vez que o tivesse concluído?
Quando eu comecei a escrever o livro eu ainda não tinha inventado esse negócio, mas foi rápido até chegar nessa ideia, haha.

Você largou um emprego tradicional, com carteira assinada, para viver exclusivamente dos seus escritos. Sentiu-se inseguro ao tomar essa decisão? Tinha um plano B?
Eu larguei o meu emprego também porque não aguentava mais ele. Eu precisava mudar minha vida, então a literatura me abraçou e foi muito boa comigo. Eu estava com medo no início, mas desde o primeiro dia deu tudo certo, então fui ganhando confiança no que eu estava fazendo. :)

A Avenida Paulista foi apenas uma escolha óbvia, devido ao grande movimento, ou houve outros motivos? Pretende vender seu trabalho em outros pontos?
Eu amo a Paulista, sempre gostei de lá, mas claro que o número de pessoas que passam por lá todos os dias foi um fator primordial pra eu escolher esse ponto.

Conte-nos um pouco sobre como foi seu primeiro dia na Avenida Paulista. Foi bem sucedido, sentiu-se animado?
Meu primeiro dia na Paulista foi cheio de nervosismo e alegria. Fui bem sucedido e vendi bastante, de cara. Foi um dos dias mais esquisitos e felizes de que eu me lembro.

De quanto foi sua tiragem inicial? Esgotou em quanto tempo? Você a financiou com suas próprias economias ou buscou outras fontes, como empréstimo ou financiamento coletivo?
Minha primeira tiragem foi de 100 exemplares, e logo depois que esgotou, mandei fazer 200, e assim foi. Com o dinheiro que arrecado nas vendas, banco a próxima edição e tiro meu lucro.

Num dia bom, quantos livros em média você vende?
Num dia bom, eu vendo 10 livros, em média.

É difícil concentrar-se para escrever em plena Avenida Paulista, e sendo abordado por leitores? A escrita rende?
A escrita rende sim, haha, tem muita referência e inspiração por lá.

As pessoas ficam receosas, tímidas em abordá-lo, ainda mais ao vê-lo escrevendo? Ou o abordam com naturalidade?
Sim, algumas ficam um pouco receosas, mas sempre é muito gostoso o contato.

Você, como tantos jovens autores, e eu me incluo nisso, se autopublicou. Tem gostado da independência de vender diretamente aos leitores, definir o preço de capa, margem de lucro? Vale a pena trocar isso por uma editora tradicional, se tiver a oportunidade?
Eu sou suspeito pra falar. Desde o início queria ser independente, nunca sonhei com editora, nem corri atrás. Então, pra mim, sim, vale super a pena.

Falemos agora de e-books. Seu livro também pode ser encontrado à venda na versão eletrônica pelo site da Amazon. Mas sabemos que no Brasil o livro impresso ainda tem um apelo muito maior junto ao público leitor. Como tem sido sua experiência com e-books? A venda tem sido tão boa quanto a venda de livros físicos?
A venda do e-book está começando a aquecer agora. Os livros físicos ainda vendem muito mais, mas vale a pena ter o livro na Amazon!

Qual a importância da divulgação? Já houve leitores que foram à Paulista exclusivamente para conhecê-lo e adquirir o livro após vê-lo nas redes sociais?
Sim, através da divulgação, muita gente já foi me procurar lá! É muito bacana!

quinta-feira, 26 de maio de 2016

A Falácia das Antologias

Em grupos de escritores de que participo no Facebook, vejo constantemente chamadas para antologias. Pergunto-me que vantagem pode ter, para um escritor, com todas as facilidades de autopublicação de hoje em dia, participar de algo assim.

O alcance dessas antologias parece mínimo. E se ainda por cima for daquelas que exigem que o autor adquira parte da tiragem, aí então me parece um péssimo negócio, mesmo! (Sequer serve para sentir aquele gostinho de ter um livro publicado, porque, né... é só um conto.)

A "editora" reúne 20 autores, faz com que cada um adquira vinte exemplares como condição para publicar, e com isso esgota uma tiragem de 400 livros. Embolsa o dinheiro (venda certa, lucro certo -- o autor TEM que adquirir sua cota, são as regras) e vai feliz em busca de novas vítimas incautas para o próximo "projeto". O autor que se vire com aqueles vinte livros embaixo do sovaco: vende um pra mãe, outro pra avó, um terceiro pra uma tia, dá outros tantos para uns amigos, guarda um na própria estante, e os outros viram calço de mesa.

Como autora, sinto-me bem mais à vontade em oferecer um conto meu na Amazon a dois reais que um livro de mais de trinta pilas com aquele mesmo conto meu.

Já como leitora, eu prefiro mil vezes comprar um conto isolado (como um e-book na Amazon, por exemplo) de um autor que me interesse a ter que comprar um livro inteiro (normalmente caro) recheado de trabalhos de ilustres desconhecidos porque tem UM conto que me interessa ali. Não parece justo para nenhuma das partes.

A vontade de publicar é grande, ainda mais para os que estão se iniciando no processo, ansiosos, inexperientes, e doidos para soltar o filhote no mundo. Mas não se apressem nem se precipitem. Estudem bem suas opções.



sábado, 21 de maio de 2016

LIVROS DE VALOR SENTIMENTAL

Vou compartilhar com vocês uma historinha fofa e pessoal envolvendo livros e, quem sabe, estimulá-los a compartilhar experiências similares! ;)
Envolve "Um Estudo em Vermelho", que eu li tem uns 20 anos, então não me lembro de detalhes. Lembro-me só de que achei as conclusões forçadas, pois havia outras conclusões possíveis, mas Sherlock anuncia suas deduções como inquestionáveis.
No entanto, é um livro importante para mim, pois foi o primeiro mote de conversa entre mim e meu marido! Estávamos numa festa, eu estava conversando com um amigo e citei uma frase do livro. De repente, ouço alguém falar atrás de mim: "Isto é 'Um Estudo em Vermelho', de Conan Doyle!" Pronto, continuamos conversando a noite toda, e lá já se vão 17 anos de namoro, 12 de casamento, duas filhas. Temos a capa do livro emoldurada na sala! <3
E vocês, gostariam de compartilhar livros que tenham um significado íntimo em suas vidas?

NEOLOGISMOS


Minha filha mais velha, quando bem pequena, era mestra em inventar palavras para o que queria dizer, mas lhe faltava vocabulário. Certa vez, ela tinha por aí uns dois anos, eu fui vesti-la e ela disse que eu coloquei a calcinha "encascalhada" (entrando no bumbum). Outra feita, classificou um acontecimento de "desconsolente" (algo que o deixa desconsolado -- isso já entrou no vocabulário da família). Minha mãe já se saiu com "encaixativo" -- disse que certa palavra era mais "encaixativa" que outra. Claro que ela queria dizer "mais adequada".
Crianças pequenas costumam ser bem mais produtivas nesse sentido. Minha filha hoje tem onze anos e não tenho nenhuma invenção recente dela para contar.
Vocês sentem falta da existência de certas palavras? Inventam alguma vez ou outra? Eu já adotei "desconsolente" para a vida (mas não em meus textos literários).

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Clickbaits de "Guerra e Paz"



Este homem herdou a fortuna de seu pai. Você não vai acreditar no que ocorre em seguida!

29 fatos incríveis sobre Napoleão Bonaparte. O número quatro vai deixá-lo em choque!

Estes dois homens duelam. O resultado vai surpreender você!

10 sinais de que você está se tornando um maçom!

Estes aristocratas russos ficam noivos. O que vem a seguir vai explodir sua cabeça!

A sabedoria simples deste camponês virtuoso o fará questionar tudo!

Língua de sinais para bebês ouvintes. Por que sim?

Texto originalmente escrito para meu perfil no facebook no dia 17 de maio.

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Vou tentar não me alongar demais, pois está tarde -- quero só deixar um registro rascunhado aqui antes de dormir.
A primeira vez em que ouvi falar de línguas de sinais para bebês foi na comunidade Pediatria Radical, do Orkut -- num comentário feito por Thalita Dol. Estela nessa época já falava muito bem, obrigada, portanto não se beneficiaria mais de meu novo conhecimento. Nem eu tinha outro herdeiro em vista. No entanto, armazenei a informação. Agora eu sabia que isso existia.
Quando engravidei outra vez, lembrei-me imediatamente da questão da língua de sinais. Baixei vídeos, assisti a alguns com Estela, minha filha mais velha, que se entusiasmou de imediato -- aliás, "entusiasmo" é uma característica marcante dela! <3 --, e li sobre o assunto.
Há várias vantagens listadas nos artigos e livros, mas vou tentar me ater ao que me interessou, aos benefícios que me foram caros, para além do "aumenta o QI", porque já está dando no saco essa obsessão moderna em criar mini gênios. A questão da comunicação me cativou bastante. A possibilidade de dar ao seu bebê um meio concreto, específico, e não vago como o choro, para lhe comunicar uma necessidade. E, na verdade, ir além de necessidades, pois nem só delas é feita a vida, não é mesmo? Um bebê, que antes estaria enclausurado em si mesmo até que pudesse articular suas primeiras palavras, poderia dividir com a família suas percepções. Mostrar e nomear algo que lhe chamou a atenção, de que gostou. A outra vantagem é uma extensão da primeira. Qualquer um que tenha lidado com crianças já ouviu falar de, ou viveu na pele, os famosos "terrible two". É a fase das birras. Pois bem, as tais birras são atribuídas à frustração que a criança sente pelas limitações impostas por sua precária capacidade de comunicação. Frustrada em não conseguir transmitir o que quer, começa o chororô. Se sua autonomia corporal é boa (anda, corre, pula, sobe -- é também a época do início do desfralde), a capacidade de comunicação é pífia, o que a irrita. A língua de sinais minimizaria bastante as tais birras, pois ela poderia comunicar pelo menos o básico -- e, na verdade, além. A terceira vantagem é algo pessoal, que não necessariamente terá apelo para todos: meu amor pela linguagem em geral, a curiosidade por uma língua nova.
Quando Eva tinha uns quatro meses, ou mesmo antes, eu comecei a fazer alguns gestos. Comecei por "mamar", que achei que seria o mais importante então. Mas era algo errático. Ela era tão pequena, e parecia tão distante essa possibilidade de que de fato ela fosse se comunicar comigo por meio daqueles gestos, que, absorta por outras necessidades mais pungentes de nosso dia a dia, fui aos poucos deixando para lá. Quando ela tinha uns sete ou oito meses, comprei outro livro -- ou melhor, comprei um livro, pois o que lera até então fora de artigos grátis na internet ou amostras grátis de livros na Amazon --, o que me deu ânimo novo. Com esta idade, oito meses, muitos bebês cujos pais vinham sinalizando consistentemente já respondiam. Fiquei triste com o tempo perdido, mas fazer o quê? Além disso, o livro atestava que, conquanto seu bebê ainda não falasse, ou se ainda tivesse um vocabulário muito restrito, ainda era tempo de começar.
Tentei ser mais consistente. Escolhi palavras que eram do interesse imediato de Eva: mamar, comer, água, avião, gato, peixe. Essas três últimas, porque (1) volta e meia um avião sobrevoa nossa casa e Eva fica fascinada, (2) temos em casa três gatas que igualmente a fascinam, (3) ela adora os peixes do aquário de seus avós paternos. Fiz MUITO o gesto de "avião" e de "gato" para ela. Fazia dois meses que eu sinalizava com insistência sem obter qualquer resposta, apesar de perceber que ela prestava atenção. Semana passada ela começou a apontar para cima SEMPRE que ouvia o barulho de um avião passando, ainda que estivesse dentro de casa, e não no jardim, de onde poderia vê-lo. Era alguma coisa, mas não era o gesto para avião. Estela, por exemplo, com quem nunca utilizei língua de sinais, fazia "tcha-tchau" com a mão sempre que ouvia um passar, de tanto que eu lhe dizia, "Olha o avião, vamos dar tchau para o avião," sempre que um deles passava.
ATÉ HOJE. Estávamos sentadas no chão, brincando, quando uma das gatas se aproximou. E Eva simplesmente a olhou e fez o sinal para gato. Muito naturalmente, e assim sem mais. Eu não havia feito o sinal, não havia chamado sua atenção para a aproximação da gata, nada. Foi completamente espontâneo, por iniciativa dela apenas. Meu coração derreteu! :) Hoje. Aos dez meses e três dias.
Bom, dizem que depois do primeiro sinal, ou seja, depois que a criança entende as regras do jogo (um sinal = um conceito), é só ladeira acima.
Palavra do dia: ENTUSIASMO.

Escritor, use nas redes sociais o mesmo nome com que você assina seus livros!

Uma dica que parece óbvia -- mas, aparentemente, não o é para todos!


Escritor, use nas redes sociais o mesmo nome que você utiliza em suas publicações (e-books, livros impressos, folhetos, o que quer que seja-- a não ser que tenha um motivo muito sério para não o fazer).

Digamos que eu leia seus tópicos e comentários, ache que você se expressa bem, tem ideias interessantes e as defende com coerência. "Puxa, essa pessoa escreve tão bem no facebok/twitter, gostaria de ler as criações literárias dela." Eu sei que você publica na Amazon, porque soltou essa informação em algum tópico por aí. Só que você, nas redes sociais, assina, por exemplo, "João Cláudio", mas, na Amazon, "J. C. Lemos."

Eu, como sou paciente e até gosto de bancar a detetive, dou uma fuçada em seu perfil, para ver se descubro seu "pen name". Se não conseguir, dependendo de meu interesse, até mando um inbox perguntando (que vai cair na pasta "outras", você não irá ver nem responder).

Já outras pessoas, após pesquisarem por "João Cláudio" na Amazon e não encontrarem nada, podem simplesmente deixar para lá. Parabéns, você perdeu um leitor! (Sim, eu sei, se alguém estiver MUITO interessado, vai dar um jeito de descobrir. Mas e os medianamente interessados se darão a esse trabalho? Facilite a vida de seus leitores!)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Cadê o queijo do reino que estava aqui? Virou queijo prato!

Escrevi esta crônica-desabafo-denúncia no Natal de 2014

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Quero registrar aqui meu protesto quanto à esculhambação que vem sofrendo atualmente o queijo do reino, na esperança de que alguém venha me explicar nos comentários que putaria é essa que está acontecendo.
Na minha infância, era o Jong. E era como um queijo do reino devia ser, gorduroso, porém quebradiço, e muito salgado. Na época, eu nem gostava tanto – era meio forte para meu paladar infantil. Mas fui aprendendo a gostar – e bastante! Pois bem, há coisa de uns quatro anos, o Jong virou um queijo prato mais amarelo, mais oleoso, e com casca rosa. Sabem aquele “queijo tipo lanche” Regina, da embalagem laranja? O próprio! Ele também tem seu valor – mas não vou comprar queijo prato pagando por queijo do reino.
Risquei o Jong da minha vida, e me agarrei com o Piracanjuba. Ele era como eu esperava que um queijo do reino fosse, quebradiço, com textura que lembra o parmesão. Aí, semana passada, abrindo o Piracanjubinha lindo do meu coração, surprise, surprise! Encontrei um queijo prato dentro da lata. Um queijo prato meio nojentinho de tão amarelo e de tanto óleo. Até tu, Piracanjuba? Ainda bem que ano passado eu descobri que o Borboleta também era um queijo do reino honesto, mas... ontem, marido ganhou uma lata, abrimos já meio receosos, e de dentro da lata tiramos um queijo mezzo prato mezzo reino – a mutação já está em curso.
Então, prezados, eu vos pergunto: que diabos vem acontecendo? Um duende vem invadindo as fábricas sorrateiramente, roubando a receita, e os donos, desesperados, estão enfiando queijo prato nas latas achando que ninguém irá notar?
Eu penso que pode ser um efeito dominó: quando o Jong começou essa modinha, conseguiu baixar o preço do queijo, e os outros se viram obrigados a acompanhar. Pode ser isso? Mas e quem realmente gosta de queijo do reino não estaria disposto a pagar um pouco mais? Porque, como disse, na função de queijo prato, ainda vou de Regina.
P.S.: Reparem que essa modinha não se restringe aos queijos. A goiabada cascão de várias marcas tem virado praticamente uma geleia de goiaba. O povo está ficando com preguiça de mastigar, é isso? Toda comida agora tem que ser molinha, papinha? Mas que diabos...?
Pela atenção, obrigada!

terça-feira, 17 de maio de 2016

APENAS 40 AUTORES AUTOPUBLICADOS SÃO UM SUCESSO, DIZ A AMAZON

(Traduzido por mim -- o artigo original pode ser lindo aqui)

Finalmente sabemos quantos autores autopublicados são de fato bem sucedidos: 40. Não, isso não é um erro de digitação.
40 autores autopublicados fazem dinheiro grande; os outros, e eles são centenas de milhares, não fazem. Esta interessante estatística, revelada recentemente num artigo da New York Times, refere-se à Kindle Store somente, mas sendo a Amazon a maior plataforma de publicação digital do mundo, esses autores não devem estar se saindo melhor alhures.
Por “fazer dinheiro”, queremos dizer ter vendido mais de um milhão de e-books nos últimos cinco anos. Sim, 40 autores autopublicados conseguiram o feito — conseguiram mesmo uma editora própria, caso de Meredith Wild, sobre cuja história, também retratada no New York Times, vale a pena se debruçar.
É uma história que revela alguns outros detalhes sobre o atual estágio da indústria editorial: ano passado, um terço dos 100 best-sellers da Kindle Store eram títulos autopublicados. Talvez não haja motivo para surpresa, levando-se em conta o hábito das editoras de colocarem preços estratosféricos nos e-books, algo entre $12 a $16 — às vezes mais!, comparados aos autopublicados, que oferecem seus livros a um preço médio de $3 a $5. É de se perguntar por que editoras fazem isso, chegando a cobrar mais pelo e-book que pela cópia impressa… Talvez por temerem os livros digitais?
O mercado digital é, sim, assustador, principalmente devido à sua dimensão: hoje há mais de 4 milhões de títulos disponíveis na Kindle Store, comparados aos 600 mil de seis anos atrás (esses dados são todos do mesmo artigo). Ou seja, ter seu livro descoberto tornou-se o problema número um. Como poderá seu livro se destacar nessa multidão?
Há várias respostas (marketing tendo um papel de destaque), mas algumas das soluções mais inovadoras vêm justamente dos autores autopublicados mais bem sucedidos, como a citada Meredith Wild e alguns poucos outros que seguiram (mais ou menos) seu exemplo (Bella Andre, Barbara Freethy, H. M. Ward, C. J. Lyons). Eles fecharam acordos com o “Ingram Content Group”, uma grande gráfica e distruibuidora, conseguindo levar seus livros a livrarias, grandes lojas de departamento, aeroportos, etc. Afinal, encaremos os fatos: quando você vende muito no mercado digital, você não quer ficar de fora do mercado de impressos: 36% dos consumidores de livros ainda lêem exclusivamente os impressos (segundo uma pesquisa de 2015 da Codex Group).
O que isso diz sobre o futuro dessa indústria? Segundo David Montgomery, da “Publishing Technology”:
“Não há mais um mercado de livros: há dois, que existem em paralelo. Um continua sob o domínio das grandes casas editoriais; o segundo é quase que exclusivamente constituído de e-books, conduzido pelo conteúdo publicado na Amazon, vendido a preços bem abaixo daqueles cobrados pelos editores tradicionais por seus produtos.”
Ele prevê um fosso crescente em 2016 entre os dois mercados. Mas o sucesso de Meredith Wild e outros sugere que uma outra coisa possa estar acontecendo: a autopublicação pode estar adentrando em territórios antes exclusivos aos editores tradicionais.
Hora de celebrar? Ainda não. Há um porém, e dos grandes: apenas 40 autores autopublicados estão em condições de transpor o fosso. Na verdade, a escrita é uma ocupação de pobres: Como a “Publisher’s Weekly” observou num artigo do ano passado, a maioria dos escritores ganham abaixo da linha da pobreza. Os dados são impiedosos:
Dado que uma pessoa que ganhe menos que $ 11.670,00 ao ano está abaixo da linha da pobreza, 56% dos entrevistados estariam aí se vivessem apenas do que ganham por sua escrita. A pesquisa ainda mostra que não apenas muitos autores ganham pouco, mas, desde 2009, ganham ainda menos. De modo geral, o ganho médio entre os entrevistados caiu de $10.500,00 em 2009 para $8.000,00 em 2014, uma queda de 24%.
Isso é bem abaixo da linha da pobreza! Não admira que a maioria dos escritores dependa de outras atividades para sobreviver…
Portanto, se você não consegue vender seus livros, anime-se! Você não está só. Se está pensando em tornar-se escritor, pense de novo. Para ser sincero, se eu pudesse recomeçar, não iria escrever livros (embora ame contar histórias), iria para… a indústria cinematográfica! Esta é a arte do futuro. As pessoas não leem mais livros, elas vão para o cinema, fazem maratonas de seriados de tv, jogam videogames. E em tudo isso — filmes, séries, jogos — bons contadores de histórias são mais requisitados que nunca!

segunda-feira, 16 de maio de 2016

PARA MIM, A PUBLICAÇÃO TRADICIONAL SIGNIFICA POBREZA. MAS AUTOPUBLICAR-ME? SEM CHANCE!





Traduzido por mim -- que, aliás, me autopublico! ;) É um artigo exagerado, quase uma caricatura, mas tem reflexões válidas. Uma coisa, porém, eu digo: se é impossível viver da escrita sendo autopublicado, como ele atesta, manter seus manuscritos recusados por editoras numa gaveta tampouco lhe trará um tostão!
(O link para o texto original segue ao fim da tradução).


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Para mim, a publicação tradicional significa pobreza. Mas autopublicar? Tô fora!
A vida como escritor profissional é financeiramente deprimente, e muitas vezes fui aconselhado a me autopublicar. Aqui vai por que não o faço:
Uns anos atrás, postei no meu blog detonando o mito do escritor rico, e pondo as cartas na mesma sobre quanto um escritor de fato recebe quando você compra o livro dele. A resposta simples para a maioria de nós é "nada", após aquele adiantamento pago pelas editoras (no caso de meu mais novo romance, $ 5.000,00 -- por dois anos de trabalho!)
O blog foi bastante compartilhado nas redes sociais, tendo sido visto por quase 10.000,00 pessoas na primeira semana. O choque, concordância e comiseração foram seguidos por conselhos para que eu me autopublicasse.
Eu sei que autopublicação está super na moda. Mas me dizer para me autopublicar é como dizer ao Luke Skywalker que vá para o lado negro da força. Apesar dos royalies de 70%, acho que é uma péssima ideia para romancistas sérios (romancistas que levam a escrita a sério, e amam escrever). Aqui o porquê:
--> Você tem que esquecer-se da escrita para sobreviver:
Se você se autopublicar, você não conseguirá se manter escrevendo. Você vai viver fazendo publicidade. Autores autopublicados passam em média 10% do tempo escrevendo, 90% fazendo autopublicidade. O autor autopublicado que veio até meu blog pregar seu evangelho, alegando renda mensal de cinco dígitos com a venda na Amazon de seus onze romances, admite quão pouco tempo passa escrevendo. Se lhe parece divertido, vá em frente. Mas se sua paixão é criar mundos e personagens, contar grandes histórias, ou deleitar-se na escrita, você deve almejar a publicação tradicional.
--> Autopublicação pode fazê-lo comportar-se como um tolo:
Imagine que acabamos de nos encontrar. Eu o convido até minha casa e a primeira coisa que você faz é me mostrar o blurb promocional de seu livro e insiste que eu o procure na Amazon. Então você lê para mim o blurb do livro de outra pessoa, cujo livro você concordou em anunciar se ela fizesse o mesmo pelo seu. Aí você me conta quantos amigos você perdeu hoje, e que dá para descobrir quantos amigos perdeu usando o aplicativo tal e tal. Aí você enfia uma resenha do seu livro sob o meu nariz. Isso só nos primeiros dez minutos. Isso me leva a concluir que você é um escritor bem sucedido, cujos livros eu deveria comprar? Ou um ególatra desesperado sem consideração pelos outros? Um que nem consegue concatenar frases, já que todas elas são sequências de hashtags.
Deixo de seguir escritores cujas postagens são 90% anúncios, da mesma forma que não ligo a tv em canal de vendas. A maioria dos autores independentes tem mais de 90% de postagens promocionais, talvez mero reflexo de que passam 90% do seu tempo anunciando. Certamente a autopublicação não parece a rota para o Eldorado. Quer juntar-se ao time?
--> Os "porteiros" das editoras lhe protegem de seu próprio ego:
Imagine que você é um marceneiro. Você observa alguns armários, lê alguns livros a respeito, pratica o jargão. Então, cheio de esperança, pega alguma madeira e se lança ao trabalho. Mas você é novato, seu kit é de iniciante. Na sua ignorância, a madeira que você escolhe é imprópria. E essas dobradiças exigem precisão, hein? Essa coisa de marcenaria é difícil! Ainda assim, com persistência e esforço, você termina seu armário. Ele capenga um pouco. As gavetas travam. O acabamento não é perfeito. Mas, ei!, é um armário! Você tenta vendê-lo a lojas de móveis e todas educadamente recusam. Então você tenta vender por contra própria? Ou dá um suspiro e começa de novo, tentando fazer melhor desta vez?
--> Bons escritores se tornam bons por se submeterem a um aprendizado. Cuidar de sua formação é importante:
Meu primeiro romance foi meu quarto romance. Foi aperfeiçoado graças aos três anteriores (mais outros dois pela metade) que não chegaram lá (ainda que dois deles tivessem sido reprensetados por agentes conceituados). Sim, pode ser frustrante ver seu bem amado livro (meses ou anos de trabalho) rejeitado pelas editoras tradicionais. Mas se você leva a escrita a sério, você simplesmente se esforçará mais. Investirá mais alguns milhares de horas em sua formação. E quando o tiver feito, ficará bem feliz de que o primeiro romance que você escreveu não tenha sido o primeiro que você publicou, porque agora você estaria envergonhado pelo amadorismo da coisa. Você só será estreante uma vez. Um livro de estreia que chame a atenção é fundamental. Você dificilmente causará uma boa impressão se sua estreia for aquele armário capenga com gavetas que enguiçam.
--> Pode esquecer prêmios e festivais:
Editoras tradicionais são o único caminho para escritos mais artísticos. Com literatura de entretenimento, autopublicação pode torná-lo bem sucedido (se você conseguir constituir um público, se gostar e for bom em publicidade, se tiver sorte). Mas para publicações mais "literárias", o autor depende de ser aclamado pela crítica e pelos prêmios literários para construir uma reputação. Se literatura de entretenimento está para a música pop, escritos mais artísticos estão para a ópera: o público é pequeno, e os meios de alcançá-lo, limitados. Livros autopublicados não têm lugar em grandes prêmios como o Baileys, o Costa e o Man Booker, e chegar a finalista num desses é o único modo de um livro mais artístico tornar-se um best-seller. A chance de um livro autopublicado ser resenhado na imprensa tradicional é a mesma de que meu cachorro não coma uma salsicha. A chance de um autor independente chamado para um dos grandes festivais? A mesma de Donald Trump se desculpar com o México.
--> Você se arrisca a passar por um amador:
Bons escritores precisam de editores ainda melhores. De designers brilhantes para suas capas. Publicitários criativos e bem relacionados. Todas essas coisas são providenciadas pelas editoras profissionais, e o melhor, não lhe custam nada! E eles ainda o pagam! Se um autor independente quiser evitar o aspecto amador, que se prepare para investir pesado em ajuda profissional. Ajuda profissional DE QUALIDADE, não um desconhecido das Filipinas que você achou no Fiverr, nem seu sobrinho que "manja de photoshop". Isso não resultará numa capa com aparência profissional. Isso para não falar em editores, revisores, e do quanto já fui salvo por eles. Oferecer esses serviços para os indies tornou-se um negócio lucrativo. Aliás, muitos indies se viram financeiramente oferecendo estes serviços a outros indies: um novo esquema de pirâmide entre os "autores empreendedores". O que está bem, se você quer trabalhar na indústria do livro. Mas se você quer ser escritor, por que não praticar até escrever algo por que uma editora o pague? E desfrutar do fato de que eles bancam todo o resto.
--> 70% de nada... é nada!

A última limitação que citarei é fiscal. Você pode despender todo esse esforço, fazer toda a publicidade, e ainda não conseguir sobreviver da escrita. Fiona Veitch Smith trocou a autopublicação pela publicação tradicional:
"Não ganho muito como autora publicada por editora tradicional, mas é mais que quando eu era independente. Publiquei sete livros em quatro anos e na época só um deles deu lucro -- menos de $ 100,00. Antes que alguém diga que é porque não trabalhei o suficiente, meus amigos e família, que mal me viram naqueles quatro anos, atestarão que trabalhei MUITO. Tanto que atraí a atenção de duas editoras, que me contrataram (uma, para meus livros infantis; outra, para os adultos). Não suporto mais o sentimento de inadequação quando leio histórias de sucesso dos autopublicados atestando que se eu trabalhasse mais e melhor, fizesse publicidade nas redes sociais, gastasse 90% do tempo me promovendo, e 10% escrevendo -- ah, e me cadastrasse em tal blog e baixasse tal manual -- eu ganharia uma renda mensal de no mínimo cinco dígitos. Mas a verdade é que, das dúzias de independentes que conheço, fui provavelmente a mais bem sucedida."
Ela acabou de vender o direito de tradução para o coreano de seus livros infantis -- outra benesse da publicação tradicional. Editores e agentes têm alcance. Com acesso a redes de distribuição, podem levar livros impressos às livrarias. Podem representá-lo em importantes feiras, vender seu livro no mercado internacional.
Autopublicar-se? Gera barulho nas redes sociais. E websites de "empreendedores" doidos para vender os segredos do sucesso para os "empreendedores aspirantes." Com o Kindle e o Create Space como principal plataforma de venda, continua a enfiar dinheiro nos bolsos da companhia que é a principal responsável por destruir a renda dos escritores, ainda por cima. E não é o caminho da segurança financeira. Para aqueles que ainda preferem uma equipe orquestrada na retaguarda a soprar sozinho o próprio trompete; ou criar uma narrativa a um pequeno negócio; aventuras a anúncios... autopublicação não é a resposta.
http://www.theguardian.com/books/booksblog/2016/mar/21/for-me-traditional-publishing-means-poverty-but-self-publish-no-way#comment-71007994

domingo, 15 de maio de 2016

EXPERIÊNCIAS COM O REAL ALCANCE DE E-BOOKS NO BRASIL E COM A DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS GRATUITOS.





Em maio de 2015, publiquei minha primeira obra de ficção na Amazon, o romance "Vale sem Retorno" (nele eu trato da paixão do jovem mago Merlin por sua aluna de magia, Viviane. Fui o mais fiel possível às lendas como relatadas pelo ciclo arturiano na Idade Média).

O texto abaixo é o relato de minhas duas primeiras experiências com campanhas de livros gratuitos na Amazon, assim que o publiquei. À publicação de imediato se seguiram duas campanhas, uma no fim de maio, e outra, quinze dias depois, em meados de junho:

***

Dia desses, discutiam, num grupo de escritores de que faço parte, o caso de Nana Pauvolih, que lavou a burra na Amazon mas acabou assinando contrato com editora tradicional. As pessoas questionavam se tinha de fato sido vantajoso, uma vez que se atestava que ela teria chegado a fazer 22 mil reais num único mês na Amazon, e que ganhar isso tudo recebendo apenas 10% do preço de capa de um livro publicado por editora seria bem mais difícil.

Eu já fui muito empolgada com a Amazon. Tenho um livro lá à venda desde 2013 que nunca foi nenhum grande sucesso, mas não me decepcionava com isso porque a temática e o gênero não ajudavam (era um ensaio -- é óbvio que histórias de ficção, ainda mais se forem de fantasia, hot ou histórias de amor adolescente vendem muito mais).

Pois bem. Este mês disponibilizei na plataforma um romance. E, ao tentar promovê-lo, fiquei um pouco decepcionada, pois a impressão que tive foi de que o mercado de e-books no Brasil é bem mais modesto do que a Amazon e congêneres nos querem fazer acreditar. Por exemplo, dia 27/05 deixei o livro grátis por 24 horas. Tive 145 downloads na Amazon Brasil e dez distribuídos por outras lojas. Esses 145 downloads não são um número grande, ok? Mas foi o suficiente para que meu livro passasse várias horas como o primeiro lugar em download de livros gratuitos da Amazon Brasileira -- sim, dentre todas as categorias. Primeiro lugar geral. 145 downloads. Poxa vida, hein? Não achei tão animador assim.

Também recebi algumas mensagens de pessoas dizendo que não faziam ideia de como baixar o livro. Ou seja, pelo visto comprar um e-book ainda é mais difícil que entender grego para muita gente. Outro caso é o seguinte: tive algumas vendas, mas não chegou a dez por cento da quantidade de downloads gratuitos. Parece que todo mundo adora um brinde, mas não se anima a pagar por um e-book, por mais barato que seja. Meu e-book está por seis reais, talvez acima da média para e-book de autora desconhecida. Mas se eu cobrasse dois reais, duvi-dê-ó-dó que eu vendesse mais. As pessoas não querem mesmo é pagar, porque tenho certeza de que quem paga dois, paga seis, se quiser ler o livro. E cobro seis porque só a partir desse valor a Amazon repassa 70% ao autor. Quem cobra abaixo disso só leva 35% -- acho essa restrição uma sacanagem da Amazon, mas essas são as regras por ora.

O fato é que, quando o livro é baixado de graça, mesmo que por muita gente, poucos lêem. Muito mais provável que uma pessoa vá ler um livro em que tenha investido dinheiro que aquele baixado de graça. E digo isso por experiência própria! Afinal, quantos livros já baixei porque, afinal, estavam de graça, e que hoje nem lembro que estão no meu kindle? Enfim, espero que pelo menos uns 10% dos que baixaram leiam, e que desses que lerem, 10% façam reviews, o que me garantiria... uma review!!! (Detalhe: uma moça que baixou leu no mesmo dia, e no dia seguinte já deixou review, então a chance de eu já ter preenchido minha cota é grande, né? Mas aproveito para dizer que se teve um lado bom nessa promoção, foi justamente ter conhecido essa leitora, que se interessou de verdade pelo livro e com quem já troquei várias mensagens! ♥. Outra observação pertinente é que essa matemática aparentemente se confirmou posteriormente com outros títulos, e mesmo com este, à medida que os downloads avançaram com os meses: as reviews correspondem a cerca de 1% dos downloads.)

Para mim, de verdade, a sensação que ficou é a de que e-books ainda são menos populares por aqui do que eu pensava (e olha que desde 2013, desde que comprei meu kindle, eu praticamente só compro e-books -- ou seja, eu, como consumidora, tinha uma ideia muito otimista do alcance destes).

E aí entendo a Nana. Parece que a aceitação de livros impressos ainda é muito maior, mesmo. É isso.

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Quinze dias depois, dois dias de downloads gratuitos, em vez de um só, como em minha primeira tentativa. E levei dois dias para conseguir quase que exatamente o mesmo número de downloads que da primeira vez -- na verdade até um pouco menos: 151 vs. 147. A que atribuo isso? Vamos lá:

-- Pode ter sido mera saturação: foram só quinze dias de intervalo entre as duas promoções. Digamos que quem queria baixar, já tinha baixado. Seria uma interpretação. Por outro lado, se consegui praticamente o mesmo número de downloads, posso também concluir que ainda havia potencial.

-- Uma coisa que acho que me atrapalhou foi que passei os dois dias de duração da promoção viajando. Com isso, interagi menos nos grupos de leitores do Facebook, acompanhei menos de perto as estatísticas, estive menos disponível. Não estava em nenhum rincão longínquo sem acesso à internet, mas sem dúvida acessei a rede menos e por menos tempo do que se estivesse em casa.

-- Se, da primeira vez, consegui ficar por várias horas como o livro grátis mais baixado na Amazon Brasil, dessa vez meu desempenho caiu: minha melhor colocação foi sexto lugar entre os mais baixados, e quinto na categoria "romance."

A concorrência foi bem maior: como era dia dos namorados, acho que meia Amazon resolveu deixar seus livros gratuitos ou no mínimo baixar o preço. Sobressair-se foi mais complicado. Concluí que NÃO é uma boa ideia fazer esse tipo de promoção em datas como dia dos namorados, dia das mães, dia do livro, Black Friday, etc. Não, não vai ajudar a impulsionar seu livro. Tornará você apenas mais um naquele oceano de livros em promoção. Este, creio, foi o maior ensinamento que tirei dessa segunda experiência e repasso a vocês: escolham datas aleatórias para suas promoções, é melhor. Ou datas que tenham a ver com o conteúdo da história (descobrimento do Brasil, dia de algum santo, dia da tapioca, ou sei lá sobre o quê você está escrevendo), e não essas datas em que as promoções pipocam -- você ficará submerso.


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Bem, posto isto no blog em maio de 2016. Faz, portanto, um ano. Pouca coisa mudou. Houve ganhos, claro! :) Obtive mais reviews no site da Amazon (seis, no total), e meu livro ganhou inclusive um prefácio, gentilmente escrito por Ronaldo Trentini. Outras campanhas se sucederam, e em todas consegui um bom número de downloads, mas o feito de mais de 150 cópias em um dia nunca mais se repetiu. E as pessoas, apesar de baixarem a cópia gratuita, compram pouco.

Confesso que, fora das campanhas, por outro lado, pouco divulgo meu livro. Estou tentando aprender como fazê-lo de forma eficaz e simpática, sem ser a chata que empurra seus livros para todo o mundo!

sábado, 14 de maio de 2016

Contos vs. Romances

Quando comecei a escrever ficção, eu queria escrever romances. Ponto. E minha primeira obra de ficção foi um romance, "Vale sem Retorno". Que eu haja começado pelas narrativas longas vai de encontro a um clássico conselho que se dá a todo aspirante a escritor: que comece pelos contos. A principais vantagens são duas: (1) As chances de você desanimar no meio do caminho e abandonar o texto são menores. Será mais provável que você finalize um texto e sinta a satisfação de concluir um trabalho. (2) Com o texto pronto, você poderá mostrá-lo às pessoas, ouvir-lhes as opiniões, e melhorar mais rapidamente sua escrita que se passasse meses, ou mesmo anos, a se debater sozinho com o longo texto de um romance.
Não muito tempo depois de haver disponibilizado "Vale sem Retorno" na Amazon, tiveram início as inscrições para o concurso "Brasil em Prosa". E resolvi comprimir uma ideia que eu transformaria num romance regional "um dia, quem sabe" em um conto de no máximo 3000 caracteres (foram menos de mil palavras): "O Sexo dos Anjos". O resultado me agradou muito. Posso até não ter ganho o concurso, mas tive um numeroso feedback (21 reviews: para mim, um feito!) e, tão ou mais importante: muitos membros de um grupo de que eu participava também haviam se inscrito no concurso, e li muitos de seus contos, e resenhei outros tantos. Uma adormecida paixão pelas narrativas curtas despertou com força total, tanto para ler quanto para escrever.
Neste ano, até o fim de abril eu redigi oito contos, cinco deles para concursos, que devem permanecer inéditos por enquanto, mas irão para a Amazon no segundo semestre, independentemente do resultado. Quanto aos outros três, um deles ("Papangulianas") eu publiquei apenas na minha página no Facebook (por algum motivo estou sempre adiando publicá-lo na Amazon -- talvez por destoar um pouco do que costumo escrever, fico insegura em dar-lhe um ar mais oficial); o segundo ("A mãe de Schroedinger") foi publicado numa coletânea ("Todas as Mães Merecem o Paraíso", organizada por Samuel Cardeal); e o terceiro ("No Controle") nasceu por conta da terceira edição do projeto "Criadouro", da Revista Capitu, organizada por Duanne Ribeiro -- e também pode ser encontrado na Amazon.
Sinto-me realizada como contista. É uma maneira de rapidamente esvaziar a cabeça de ideias que ficam incomodando. Se tivesse que elaborar um romance para cada uma delas, não daria conta. E, se escolho e me restrinjo a uma ideia muito específica por vez, ela não seria mesmo suficiente para ocupar as páginas de um romance. Eles também são o terreno ideal para experimentações. Se o resultado não ficar muito bom, o tempo investido foi menor. Eu, por exemplo, estou brincando de não nomear os personagens. Nos meus últimos quatro contos , nenhum personagem ganhou um nome. Num romance, isso provavelmente daria menos certo: a quantidade de personagens é bem maior para que eles prescindam de nomes sem criar confusão. Além disso, tenho descoberto novos autores nacionais independentes por meio de seus contos -- é um modo rápido de saber se a escrita de determinado autor me agrada ou não.
Enfim, depois de me revigorar com os contos, acho que vou atacar um romance outra vez!