sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Periodicamente, meus livros ficam gratuitos na Amazon. Quando eu quero. Porque eu quero. Algumas vezes, divulgo a gratuidade. Outras, deixo como surpresinha, para quem encontrar o livro naquele dia. Seja por acaso, seja porque buscou por mim na plataforma.
Também acontece de eu enviar o arquivo de algum livro para certas pessoas. Porque me apetece. Pelos mais diferentes motivos. Mas são escolhas minhas. Eu não tenho que fazer isso.
É chato quando alguém escancara que gosta do que eu escrevo, e ATÉ me lê, contanto que seja de graça -- pois nunca pagaria sequer os dois míseros reais que cobro por boa parte de meus trabalhos postados na Amazon (dos quais embolso setenta centavos, saliento).
Essa coisa do preço é engraçada, aliás. Nós, autores independentes, ficamos entre a cruz e a caldeirinha. Se cobramos barato, dizem que estamos nos desvalorizando,que ninguém leva a sério um livro que custa dois reais (cobramos barato porque queremos que as pessoas sintam que nada têm a perder ao experimentar um autor desconhecido). Se cobramos mais, "Nossa, tá louca, miga, quem vai pagar isso por um e-book de autor desconhecido?"
Meu novo livro, "A Vendedora de Calcinhas Usadas e Outros Profissionais", está à venda por seis reais. Ainda é um preço barato. Quem está disposto a pagar por meu trabalho, porque gosta dele, pagará seis reais. E quem só lê de graça, bem, esse não pagaria nem dois, então... Tá tudo certo.
P.S.: As promoções de gratuidade periódica continuam, só para constar!

domingo, 9 de outubro de 2016

A velha questão sobre se o Kindle Unlimited é ou não vantajoso para o autor...

(O que é o "Kindle Unlimited"? Uma espécie de "Netflix dos livros" da Amazon. Você paga cerca de R$ 20,00 mensais e lê o quanto queira -- contanto que os livros escolhidos estejam cadastrados no programa. Todos os meus estão.)
Acredito que, para aqueles poucos e sortudos que já vendiam bem seus e-books antes do programa, e cobrando inclusive R$ 9,99 no e-book, coisa que nem sonho em fazer (meu preço máximo é R$ 5,99), seja melhor continuar fora do... do KU. Ele paga pouco (cerca de um centavo por página lida). Um romance de R$ 9,99 rende R$ 8,40 para o autor. Ele só conseguiria o mesmo no KU por um romance de mais de 800 páginas.
Para mim, o programa está sendo fundamental. Principalmente levando-se em conta meu livro mais bem-sucedido até agora, "A vendedora de calcinhas usadas e outros profissionais". Ele custa R$ 5,99 e tem 61 páginas. Aparentemente, eu ganharia bem mais pelas vendas que pelo aluguel no Kindle Unlimited: R$ 4,20 vs. R$ 0,61. Só que. Só que...
Ele foi lançado dia 10 do mês passado, e só fiz três vendas. Já os aluguéis...! Desde o dia 18, não se passou nem um dia sequer sem haver registro de páginas lidas no sistema (a primeira semana, do dia 10 a 17, foi mais errática, mas também teve leituras).
Hoje mesmo, já foram 61 páginas lidas até agora, sete e meia da noite. Um livro, portanto, lido do começo ao fim. Há dias em que há mais que o dobro disso. Com sorte, ainda surgirá um madrugador atrás de uma leiturinha antes de dormir, e, com isso, mais páginas lidas serão registradas.

Eu não sou uma autora conhecida -- ainda! ;) Alguém que não esteja disposto a investir seis reais num livro meu pode estar interessado em lê-lo "de graça" (usando as palavras da Amazon. Claro que "de graça" não é, pois você está pagando uma assinatura. Mas vocês estenderam o espírito da coisa.)

O que me deixa muito feliz é que aqueles que têm dado uma chance à "Vendedora de Calcinhas e Outros Profissionais" alugando-o pelo Kindle Unlimited parecem ficar satisfeitos com a leitura -- o número de páginas lidas sempre dá próximo a um múltiplo de 61, ou seja, têm lido o livro inteiro, não estou notando abandonos no meio da leitura! <3

sábado, 27 de agosto de 2016

DIAGRAMANDO SEU LIVRO COM POUCA GRANA (Para escritores que vão se autopublicar e pretendem diagramar eles mesmos seus livros)

A ideia não é dispensar um profissional da diagramação, mas, se você não tem como pagar de jeito nenhum, ainda assim há pequenos truques que você pode usar para melhorar — e muito! — o aspecto de seu livro. Então, preste atenção nestes detalhes antes de gerar um PDF para enviar à gráfica/serviço de impressão sob demanda escolhido:
1) Traço (–) não é travessão (—), nem três pontos em sequência (...) são reticências (…)! Caso pareçam idênticos ou muito parecidos aqui, não será isso o que acontecerá quando impresso! Use os sinais corretamente!
2) A não ser que queira que seu texto sofra de diastema, ative a hifenização automática!
3) A justificação ficará mais sutil se você ativar a opção “Fazer a justificação completa, como faz o WordPerfect 6.x para Windows”.
4) Ligaturas: deixam o texto mais elegante. São possíveis no Word 2010, mas não funcionam com qualquer fonte. Gosto da Adobe Garamond Pro: bonita, legível, e as ligaturas estão lá! Free Serif é uma fonte gratuita que também possui ligaturas.
5) Na aba “parágrafo” ative a opção “não adicionar espaço entre parágrafos do mesmo estilo.” Você já viu livro com espaçamento extra entre parágrafos? Não? Nem eu (ou melhor: só vi nos autopublicados. Vexame total, hein?). Deixe isso para teses e dissertações — ou nem para elas! (No caso dos e-books, às vezes é preferível substituir a tabulação pelo espaçamento entre parágrafos, pois, como se trata de um texto fluido, que tem que se adaptar ao tamanho da tela utilizada pelo leitor, a tabulação pode atrapalhar e deixar o texto meio “zoado”.)
6) Não custa nada também pegar um livro e observar certas características para poder imitá-las. Por exemplo, não se numeram falsa folha de rosto, folha de rosto, a página da ficha catalográfica, ou a página do sumário. Não se numeram as páginas brancas que separam seções ou capítulos, bem como, normalmente, não se numera a primeira página de cada capítulo, mas isso acho mais questão de gosto. Aprenda a usar direitinho as quebras de páginas e de seções do Word para que o programa simplesmente não saia numerando toda e qualquer página. Isso é o que mais vemos em livros do Clube de Autores, e é um pouco constrangedor.
Obs.: Essas dicas todas são para uso no Word.
Uma última sugestão: pesquisem “tipografia” no Google, certamente surgirá muita coisa. E, se você fala inglês, busque por typography, que surgirão mais coisas ainda!

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Sobre VALE SEM RETORNO, meu primeiro romance


(Texto originalmente escrito em agosto de 2015)

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Participo de um grupo de escritores que foi criado para que lêssemos e debatêssemos os textos uns dos outros. No início do mês passado, meu romance “Vale sem Retorno” foi alvo de debate. Entre os comentários, um me chamou mais a atenção: uma pessoa disse que começou a leitura de má vontade, pois imaginava encontrar uma fanfic de “Brumas de Avalon”, mas se surpreendeu com os personagens, que não eram “sombras dos originais”.
Não cheguei a ficar surpresa, tampouco chateada, mas apontei que os personagens de “Brumas” não são os “originais”. O ciclo arthuriano compreende uma série de histórias que passaram a ser registradas a partir do século XII, sobre eventos que se supõem acontecidos no século V. “Brumas de Avalon” é um livro do século XX — uma releitura moderna, portanto, e nem de longe a história “original”. Por isso mesmo, fiz questão de não ler. Ainda. Nem Bernard Cornwell. Só quero lê-los depois que concluir minha própria releitura.
E por que esse interesse meu em (re)contar essa história? Há alguns anos, li a história de Merlin na versão de Robert de Boron, escrita no século XIII, e foi quando fiquei sabendo que Merlin, para muito além do velho mago barbudo com a única função de aconselhar Arthur, era um personagem bem mais rico, e trazia no currículo uma história de amor. Eu fiquei ansiosa para divulgar esse Merlin de carne e osso, que se apaixonava e tinha vida e motivações próprias — que não vivia apenas em função do rei. A partir daí, fui lendo mais sobre o tema e conhecendo as várias versões que foram surgindo até o século XV, com a grande compilação feita por Thomas Malory (“A morte de Arthur”).
A primeira figura feminina a surgir foi Morgana, uma fada boa sem parentesco com Arthur. À medida que ela foi se fixando como a irmã geniosa e vingativa do rei, fez-se necessária a criação de um contraponto feminino bondoso: Viviane, a “dama do lago”, que às vezes assumia o papel de amante de Merlin. A própria Viviane com o tempo também se dividiu em duas — Viviane e Nimue, esta a amante mais tradicional do mago. Preferi manter o nome “Viviane”, e não há uma “dama do lago” na minha história.
Quanto mais lia, mais minha ambição passava a ser outra: contar a história dos três casais principais — Merlin e Viviane, Arthur e Morgana, Lancelot e Guinevere —, e como tais relacionamentos, todos proibidos por algum motivo, foram responsáveis pela queda de Camelot. A capital de Logres desaba de dentro para fora, e não atacada por inimigos externos. “Vale sem Retorno” é o primeiro livro, já concluído e disponível, e relata o romance entre Merlin e Viviane, sua aluna de magia. 



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Se ficou interessado, eis a sinopse do livro conforme consta no site da Amazon e, logo abaixo, o link para compra! :)

A ida de Viviane à corte de Camelot como dama de companhia de Lady Morgana, irmã do Rei Arthur, atende a múltiplos interesses: Sir Dionas quer arrumar um bom casamento para a única filha; Lady Morgana quer uma aliada em seu plano de vingança contra Merlin, responsável pela morte de seu pai anos antes; e Viviane quer aprender magia.

Ao apaixonar-se por Merlin, no entanto, Viviane frustra as expectativas de todos: certamente o filho do demônio não é o genro almejado por seu pai; tampouco Viviane concordará em guiar o mago à armadilha engendrada por sua senhora.

Merlin, por sua vez, apesar de corresponder ao amor de Viviane, vive seus próprios dilemas: ele sabe, graças a seus dons premonitórios, que envolver-se com sua aluna de magia é rumar para o próprio fim. E, embora Viviane insista que é possível escapar do caminho traçado pelas previsões, ele não tem tanta certeza.

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A história pessoal de Merlin pouco se sobressai ao seu papel como conselheiro do Rei Arthur. Nas várias versões que nos chegaram da Idade Média, o romance com Viviane, sua aluna de magia, não toma mais que poucas páginas, nas quais ora ela é muito má, e, após aprender com Merlin tudo o que ele sabia, trancafia-o para não ter que fazer sexo com ele em troca, ora ela o ama tanto que o trancafia para tê-lo só para si. Neste livro, eles ganham uma história de amor mais detalhada e, sobretudo, menos mesquinha, mas sempre fiel aos elementos das versões medievais originais.


https://www.amazon.com.br/gp/product/B00XSCT8RS?*Version*=1&*entries*=0

OS QUATRO PERIGOS ESCONDIDOS DOS GRUPOS DE ESCRITA

Traduzi daqui: https://janefriedman.com/dangers-of-writing-groups

 (Aliás, todo o site da Jane Friedman tem um conteúdo excelente. Fica aí a sugestão para quem não conhecia. O texto original é uma excelente fonte de MUITOS links para outros textos sobre escrita, processo criativo, edição de manuscritos e temas correlatos. Não incluí os links na tradução porque só interessam a quem lê em inglês, e, como estes já teriam acesso a eles no original, seria um trabalho redundante.)

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 Escritores amam a ideia de grupos de escrita. Escrever é, afinal, muito solitário. Você se senta só, engalfinhando-se com suas ideias no papel, lutando para afastar os ataques de dúvida constantes. Seus amigos de sempre provavelmente não entendem o que você está fazendo nem podem ajudá-lo. Portanto faz perfeito sentido unir-se a outros escritores que possam ajudá-lo a navegar pelas alegrias e dores do processo criativo.
Infelizmente, a realidade dos grupos de escrita é bem mais complicada que isso. Por trás das boas intenções, sérios perigos o espreitam.
Em meu trabalho como instrutor no mundo dos livros, vejo frequentemente os danos que os grupos de escrita podem causar, e não são benignos. Vão de frustrações fatais à profunda insegurança, e às vezes anos de esforço jogados fora. Nesta postagem irei enumerar os perigos mais comuns e também propor algumas maneiras para que você possa melhorar seu(s) grupo(s) de modo que lhe deem mais do que você precisa -- e menos do que não precisa.
Para ilustrar meu ponto, vou referir-me à sabedoria encontrada em "Creativity, Inc", livro de Ed Catmull, presidente da Pixar & Disney Animation. No livro, Catmull mostra os vários modos pelos quais o poderoso estúdio geriu a criatividade, e, no processo, produziu algumas das histórias mais queridas de nosso tempo. Ele trata de gerenciamento numa escala bem grande -- hierarquias de departamentos e projetos multimilionários para filmes --, mas o cerne da questão é que todos temos que gerenciar nossa própria criatividade se formos fazer qualquer bom trabalho, e a sabedoria de Ed se aplica a qualquer um de nós.
1. NINGUÉM DIZ A VERDADE, E NINGUÉM QUER MESMO OUVI-LA
Muitos grupos silenciam sobre flagrantes fraquezas dos trabalhos que são compartilhados e às vezes mesmo mentem descaradamente sobre a qualidade deles, porque não querem magoar aquele membro. Tudo o que ele ouve, portanto, são elogios ou uma crítica bastante vaga e sem valor prático, e assim creem que sua escrita é sólida (se não fenomenal) e se aplicam a escrever outro tanto de coisas ruins.
Elogios são maravilhosos -- faz bem ouvir -- mas não têm muita utilidade para escritores empenhados em escrever livros que envolvam os leitores. Escritores têm que encontrar meios de lidar com as críticas, mesmo as mais ásperas, mas grupos de escrita não tendem a criar essa casca grossa, e, como resultado, ninguém se desenvolve, nem aprende, e as pessoas se iludem acerca de seus trabalhos -- acreditando-os melhores do que são.
Na Pixar, dizer a verdade é parte central do processo criativo. Catmull escreveu:
"Nos primeiríssimos dias da Pixar, John, Andrew, Pete, Lee e Joe fizeram-se uma promessa. Não importava o que acontecesse, sempre se diriam a verdade. E assim fizeram por reconhecer o quão importante e raro é o feedback sincero e como, sem ele, nossos filmes sofreriam. Então e agora, a expressão que usamos para descrever este tipo de crítica construtiva e gentil é 'bons apontamentos'".
Antes de chegarmos à parte dos bons apontamentos, observemos a promessa de dizer a verdade. É o ponto crítico necessário a um grupo de escritores -- não uma promessa implícita, mas um compromisso verdadeiro. Cada um dos membros têm que entender a promessa de dizer a verdade, acreditar nela, e dar as boas vindas à vez deles no assento de fogo. Isto começa com uma mudança de mentalidade, como Catmull lindamente descreve:
"Naturalmente, todo diretor preferiria ouvir que seu filme é uma obra-prima. Mas, por conta do modo como nosso grupo é estruturado, a dor em contar que as falhas são evidentes ou que são necessárias revisões é minimizada. Raramente um diretor toma a defensiva, pois ninguém lhe está impondo o que tem que fazer. O filme -- não o diretor -- está sob escrutínio. Este princípio confunde as pessoas, mas é essencial: você não é a sua ideia, e se você se identificar demais com ela, se sentirá ofendido se elas forem desafiadas. Para um sistema de feedback saudável, você tem que tirar da equação dinâmicas de poder -- permitir-se, em outras palavras, a se focar no problema, não na pessoa.
Tente as soluções abaixo em seu grupo de escrita:
--> Cada escritor do grupo deve concordar em dizer a verdade, e a aceitá-la.
Ajuda muito se os membros têm níveis semelhantes de perícia e de experiência, e se compartilham dos mesmos -- e claros -- objetivos. Alguém escrevendo um livro porque é catártico e divertido está num ponto bem diferente daquele almejando a publicação, e talvez seja preciso alterar a composição do grupo de modo a se comprometer com o princípio de dizer a verdade. Implementar tais mudanças pode ser de partir o coração -- mas FAZ PARTE DE DIZER A VERDADE, também.
--> Cada membro deve falar com gentileza e manter um sentido de esperança quando for a vez deles de criticar.
Ataques mesquinhos que o deixam sem fôlego e sentindo-se diminuído são das realidades mais danosas de todas. Há uma diferença entre ser sincero e ser mesquinho. Não permita mesquinhez.
--> Cada membro tem que respirar fundo e dar as boas-vindas à verdade quando for a vez dele de ouvir!
Lembre-se de que quando alguém está criticando seu trabalho, não está criticando você.
--> Enfim, cada membro tem que se comprometer a entender o que "bons apontamentos" significam. O que nos leva ao item 2.
2. NEM SEMPRE ESCRITORES QUE ESTÃO NA PELEJA SÃO OS MELHORES JUÍZES DAQUELES QUE ESTÃO TAMBÉM SE DEBATENDO COM A ESCRITA.
Na Pixar, os "bons apontamentos" são divulgados numa reunião conhecida como "Braintrust". "A Brainstrust," Catmull escreve, "é formada por pessoas com profundo conhecimento das práticas de 'storytelling' e, geralmente, pessoas que já passaram elas mesmas por aquele processo." Este é um ponto crítico ao qual muitos grupos de escrita não aderem, porque NÃO PODEM aderir. São normalmente compostos por escritores que ainda estão eles mesmos buscando seus próprios caminhos pela primeira vez, o que é um dos maiores perigos de fazer parte de um.
Não há nada de errado em estar nesta luta ainda. A peleja é parte do processo criativo de qualquer um, em qualquer nível que esteja, mas por que acreditar que juntar-se com pessoas que estão lutando com as mesmas coisas que você, e sem experiência nesta luta, é um bom modo de desenvolver seu trabalho? Sim, você pode obter camaradagem, senso de pertencimento -- o que é bom --, mas as chances de conseguir ajuda específica, focada e útil para sua história é baixa. Por quê? Segundo Catmull:
"Enquanto problemas num filme são bem fáceis de identificar, as fonte do problema são muitas vezes bem difíceis de acessar... Pense num paciente que se queixa de dores no joelho -- causadas pelo seu pé chato. Se você operar o joelho dele, não só não resolverá a dor como pode mesmo agravá-la. Para aliviar a dor, tem-se que descobrir e lidar com a fonte do problema."
Um grupo de escritores destreinados em perceber os problemas da história ou de um argumento de praxe os entendem erradamente, ou apenas parcialmente certo, numa abordagem inconsciente baseada em gostos pessoais. O que não é bom. Tampouco há assistência prática em como progredir.
Você consegue feedbacks do tipo "não está funcionando", mas não o treino e paciência necessários para consertar o problema, e menos ainda a compreensão editorial que evitará cair nos mesmos erros outra vez. As pessoas podem até oferecer ideias de como ELES resolveriam a questão, como ELES veem a sua história, o que ELES fariam em seu lugar, mas esse é o caminho certo para esmagar projetos novos e balançar sua confiança.
Então o que é exatamente um bom apontamento? Aqui vai o princípio descrito por Catmull em seu site:
"Feedback sincero é o único modo de garantir excelência. Quando fizer sugestões, esteja certo de incluir:
O que está errado
o que está faltando
O que não ficou claro
O que não faz qualquer sentido
Um bom apontamento é específico. Um bom apontamento não faz exigências. Acima de tudo, o bom apontamento inspira."
Copie este princípio e plastifique, para olhar para ele quando for fazer suas críticas num grupo. Não é sobre elogios (embora Catmull afirme que a maioria das reuniões da Brainstrust principiem por elogios). E não é sobre COMO o escritor deve consertar os problemas. É sobre identificar as fraquezas do texto de forma específica, articulá-las e ajudar o autor a enxergá-las, e ele mesmo decidir sobre como consertá-las.
Tente os seguintes ajustes no seu grupo de escrita:
--> Use os critérios de Catmull para fornecer bons apontamentos.
Faça cada apontamento no formato acima, e não se permita outros comentários. O que significa nunca dizer, "Oohh, e se o personagem viesse de outro planeta?" ou "Acho que você devia começar pelo capítulo 5," ou "Você é um puta escritor, estou com inveja, quisera escrever como você!"
--> Burile suas habilidades em analisar histórias aprendendo a se autoeditar.
Eu recomendo imenso "The Artful Edit", sobre princípios de edição (Susan Bell); "Handling the truth", sobre a importância da sinceridade (Beth Kephart); e "Wired for Story", sobre escrever ficção planejada para dar ao leitor aquilo pelo que o cérebro dele anseia (Lisa Cron). Leia estes livros em seu grupo de escrita, discuta-os e avalie seu próprio trabalho de acordo com os princípios propostos. Será uma ferramenta de aprendizagem poderosa! Você talvez também goste de meu guia de 40 páginas, "Como editar um manuscrito completo", que você pode baixar de graça.
3. NEM SEMPRE ESCRITORES QUE ESTÃO NA PELEJA SÃO OS MELHORES JUÍZES DAQUELES QUE ESTÃO TAMBÉM SE DEBATENDO COM A ESCRITA, PARTE 2.
Isso é tão importante que citarei de novo, de outra forma.
Consideremos que nem você nem os demais membros do grupo de escrita possam afiar suas habilidades de analisar histórias de um dia pro outro. O que é em geral verdade. Muitos escritores acham que entendem de histórias e narrativa porque gostam de ler, e reconhecem uma boa história quando leem uma. Mas isso é bem diferente de saber como uma narrativa dramática (ficção) ou argumentativa (não-ficção) é construída, ou saber como passar emoção para a página, ou saber como levar em consideração a expectativa do leitor enquanto escreve. São habilidades muito diferentes. Alguns escritores são gênios naturais nisso, mas são raros. A maioria está burilando suas habilidades de narrar e planejar em relação à própria escrita, não também em relação à escrita alheia.
Então, como podem ajudar uns aos outros em relação aos respectivos trabalhos? Se as pessoas do grupo não têm prática e conhecimento no diagnóstico de problemas, não o façam! Sério. Façam não. Considerem transformar o grupo num lugar sobre camaradagem, apoio, troca de informações, em vez de discutir as palavras no papel.
Tente as seguintes reformas no grupo:
--> Dê a cada membro tempo para falar sobre as fraquezas que ELES veem em seu próprio trabalho e as soluções que ELES estão se propondo.
Deixe-os tentar soluções num espaço acolhedor. Às vezes, só articular o próprio problema é meio caminho andado para resolvê-lo. Percebo que muitos escritores sabem o que está errado em seus trabalhos se você oferecer-lhes tempo e espaço para que se confrontem com a verdade, e isso é melhor que pedir a pessoas destreinadas que o façam por eles.
--> Dê a cada um um momento para falar das dificuldades que está tendo em arrumar tempo para escrever.
Ou da dúvida que está tendo sobre a validade de sua história, sua falta de fé em seu valor como escritor. Nestas experiências, que podem ser fundamentais para o sucesso na escrita, somos todos especialistas (manejar o tempo, encarar dúvidas, ser corajoso).
--> Atribua projetos de pesquisas aos membros.
Passe tempo compartilhando o que leu sobre mudanças no mercado, tendências de preços, o que os leitores têm feito, e dito, e pensado, e como escritores têm atingido leitores. Acompanhe sites como "Scratch Magazine", sobre a escrita em si, ou "Shelf Awareness", sobre o mercado de livros. Identifique blogs úteis ("Save the Cat", "Shawn Coyne") e se force a incluir sites voltados para redes sociais e empreendedorismo ("Alexis Grant", "Joanna Penn" e "Dan Blank"). Isso tudo é tão importante para ser um escritor bem-sucedido quanto as palavras no papel. Não acredito que escrita de excelência possa advir de escritores que só querem vender, mas também acredito que escritores que ignoram as realidades de como livros são vendidos, e ignoram as demandas dos leitores bem como seus competidores, estão escrevendo com a cabeça enterrada na areia.
Sucesso editorial é frequentemente encarado como sendo mais uma questão de sorte e 'timing' -- e, ainda que sorte e 'timing' tenham seu papel, conhecer a demanda dos leitores e a realidade do mundo editorial é quase sempre um fator, também.
--> Guarde seus caraminguás para investir num verdadeiro expert que possa ajudá-lo na escrita em si.
Pode ser um workshop de um grupo online (Gotham Writers Workshop, UCLA Extension Writer's Program ou Writer's Digest); uma aula numa faculdade perto de você, ou contratando um editor ou coach editorial.
4. FRACASSAR NÃO É UMA OPÇÃO NUM GRUPO DE ESCRITORES, MAS É PARTE DO PROCESSO DE ESCRITA.
Escrever é um empreendimento criativo, e empreendimentos criativos são uma bagunça. As coisas às vezes pioram antes de melhorar. Podem demorar muito até entrarem em foco, enquanto você quica pra lá e pra cá entre entre o que pensava estar fazendo e o que de fato fazia, entre o começo e o fim da história, entre uma linha narrativa ou outra. Fracasso faz parte do território -- é uma grande parte dele. Grupos de escrita, por outro lado, tendem apenas a celebrar os passos para a frente, e um pensamento linear e claro.
Isso acontece porque os grupos se debruçam sobre uma pequena fatia de trabalho de cada vez. Se esta fatia calhar de ser lógica, cronológica, clara e bem escrita, você ganha joinhas. Problemas sobre como aquela fatia se encaixa no resto da história, como sustenta a premissa, ou o quanto se alinha à estrutura geral são amplamente ignoradas -- e muitos dos problemas mais comuns que identifico nas histórias são justamente nessas áreas. Quando visto como um microcosmo, um capítulo pode ser lindo, emocionante e bem polido, e ainda assim não funcionar no conjunto da obra -- não guiar a história ou o argumento em direção a uma resolução clara e harmônica.
Algumas das melhores passagens do livro de Catmull relatam a bagunça dos primeiros estágios de histórias queridas como "Toy Story". Você pode imaginar Woody jamais sendo um personagem felpudo e disforme? Ele era, e, como você deve bem poder imaginar, isso impactava cada elemento da história. Os escritores e produtores permaneceram com esse personagem por um bom tempo antes de chegarem ao cowboy ligeiramente neurótico que idolatra seu dono Andy e fica nervoso com a chegada do novato, Buzz. A intenção de Catmull em nos tornar cientes da transformação de Woody é nos mostrar que o processo criativo nunca é linear e cronológico, e que você deve dar espaço ao fracasso:
"Os filmes da Pixar não são bons desde o início, e nosso trabalho é torná-los bons. Esta ideia -- de que todos os filmes que hoje consideramos brilhantes já foram horrorosos -- é um conceito que muitos acham difícil de pegar. A criatividade tem que começar de algum ponto, e cremos no poder do feedback estimulante e sincero e no processo interativo de retrabalhar, retrabalhar, e retrabalhar de novo, até que uma história capenga encontre seu caminho ou um personagem oco encontre sua alma."
Tente os seguintes ajustes no seu grupo de escrita -- todos reiterações dos pontos listados acima.
--> Diga a verdade.
Se algo não estiver funcionando -- se tem falhas fatais, a concepção é ruim, ou tem problemas lógicos subjacentes, diga, o mais especificamente quanto possível. Não se reprima para soar bonzinho. Ser bonzinho é salvar o escritor de passar anos escrevendo na direção errada.
--> Esteja aberto a críticas. Se você receber uma dura crítica por algo que tenha escrito, considere que você talvez tenha que rascunhar tudo de novo, recomeçar. Permita que esta realidade faça parte do processo. Alguns escritores dizem que eles sabem que algo está funcionando quando começam a jogar muitas páginas fora.
--> Faça bons apontamentos, e peça por eles, também!
Encoraje os membros do seu grupo a pedir pela ajuda que acham que precisam. Em vez de esperar feedbacks genéricos, encoraje-o a dizer, "Estou tendo problemas na passagem em que conto meu sistema para elaborar resumos. Por favor, me digam se deixei algo de fora." Isto é pedir por um bom apontamento.
--> Falar dos fracassos.
Falar das dúvidas e agonias. Deixar a dor ser parte da mistura, porque criar não é fácil. É um trabalho emocional, não importa o gênero. Escritores precisam de apoio -- verdadeiro, não num nível mais superficial -- e precisam de um lugar onde possam falhar. Deixe com que o grupo de escrita seja esse lugar, e estará provendo uma ajuda inestimável.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

QUANDO UM GÊNIO AUTODECLARADO LHE PEDE QUE VOCÊ LEIA SUA OBRA-PRIMA

Comecei a traduzir este texto, mas o bichinho é comprido e bateu uma preguiça. Não sei quando continuo, mas deixo aqui para usufruírem do que traduzi até agora (o link do texto original também segue abaixo):

***


Acho que quase todo escritor que já tenha publicado um livro recebe e-mails ocasionais de estranhos pedindo-lhe que leia a obra-prima deles. Se você for um escritor empregado num departamento de inglês, só piora. Alguns desses estranhos presumem que professores de inglês são juízes amiguinhos em algum "American Idol" literário, ansiosos para ler o próximo candidato. Além de seu e-mail ser mais facilmente encontrado. Geralmente tendo responder com algumas palavrinhas as mais generosas possíveis. No entanto, algumas vezes... Como uns dias atrás. Um escritor chamado Alan (não citarei seu sobrenome, apesar de ele ser louco por atenção) me enviou um link para seu troço autopublicado, com um P.S.: "Não se constranja em ignorar meu trabalho, mas esteja preparado para pagar um preço que você nem imagina."
"Querido Alan," respondi, tão generosamente quanto pude, "desculpe-me, mas não me lembro de onde nos conhecemos. Por isso estou intrigado por seu P.S. Não estou ignorando nada, mas há muito mais livros a ler do que é possível. Quando eu estiver em dia com meus alunos, meus prazos, e os escritos de meus amigos próximos, darei uma olhada no seu."
Alan não sossegou. "Sua categoria profissional," ele respondeu, "tem preferido enterrar a cabeça na areia e se recusado a reconhecer meu gênio literário/criativo e/ou a ultrajante estupidez pedagógica que vocês todos implicitamente apoiam. Em qualquer dos casos, saiba que você deve refletir sobre o preço deste comportamento. Um dia as pessoas saberão que sua profissão é ou inacreditavelmente inepta e/ou ultrajantemente desonesta. Em qualquer dos casos, isso se traduzirá numa crise para as ciências humanas para a qual você provavelmente não está preparado. Então, esteja avisado. E perceba que eu continuarei a trabalhar para trazer à tona este cenário desagradável e indesejável."
Eu sei que o certo a se fazer num tal cenário é, claro, nada, mas eu não estava brincando quando disse a Alan que há trabalhos de amigos com os quais preciso ficar em dia. Então decidi conjugar minha correspondência com minhas responsabilidades de leitura.
"Querido Alan,
"Você está me trollando, mas morderei a isca. Presumo que você é um escritor que se sente subestimado por professores de inglês. Saiba que não sou um professor de inglês tradicional -- minha formação é em História Americana. Minha "profissão", se assim pudermos chamar, é "escritor", a mesma que a sua. Você escreve, eu escrevo. Você parece indignado por eu não ler o seu trabalho; você não menciona se leu os meus; e não parece dar-se conta que há mesmo outros autores, além de você -- além de mim! -- dignos de leitura.
"Por exemplo, escritores jovens, estudantes, para os quais não raro sou o único leitor. Você poderia rebater, "Claro, mas esses jovenzinhos são privilegiados, podem custear uma faculdade." Ok. Mas lê-los é o que me garante poder me custear. Afora o bônus de ser prazeroso, em parte por tão poucos deles perceberem a própria genialidade. Eles em geral são gratos por terem um -- único -- leitor, mesmo às vezes lento, por procrastinar respondendo a e-mails sem noção de desconhecidos.
"Outra categoria de escritores que vale a pena ler: amigos. "Oh, que joinha," você poderá dizer, "uma panelinha de escritores já bem estabelecidos." Sim. Mas nem sempre fomos "bem estabelecidos", e, na verdade, exceto para os mais famosos ou mais satisfeitos consigo mesmos, ser "bem estabelecido" -- publicado, às vezes pago -- não significa que não dependamos da validação de amigos quando atiramos um novo trabalho no abismo das palavras públicas."
(A CONTINUAR).


Daqui: http://lithub.com/when-a-self-declared-genius-asks-you-to-read-his-masterpiece/

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O que escritores bem-sucedidos andam fazendo? (E como você pode se parecer mais com eles?)

TRADUZI DAQUI: https://www.writtenwordmedia.com/2016/02/23/successful-authors-can-like/



Alguma vez você já se perguntou como alguns autores conseguem chegar ao topo das listas de best-sellers e permanecerem por lá? Perguntou-se que dicas, truques e estratégias são usados para construir uma carreira de autor indie de sucesso? Nós da "Written Word Media" temos a grande sorte de trabalhar com uma ampla varidade de escritores, mais de 19 mil deles na época de publicação deste artigo, desde os iniciantes até os que "chegaram lá". Para descobrir como passar de novato para um aqueles que estão vivendo o sonho de viver da escrita, fizemos uma apuração entre nossos autores cadastrados e encontramos interessantes relações em suas respostas.

Metodologia

As conclusões seguintes são baseadas nos resultados de respostas auto-declaradas de escritores de nossas bases de dados. Não houve uma análise estatística muito elaborada -- olhamos os dados brutos, demos uma limpada e inferimos algumas conclusões lógicas. Se você é um profissional de pesquisas de mercado ou um maluco das estatísticas, tente não hiperventilar.


Foi feita uma divisão em dois grupos: Autores Financeiramente bem-sucedidos (AFBS) e Autores Emergentes (AE).

Cada autor tem uma definição própria do que seja sucesso. Para alguns, é notoriedade; para outros, independência financeira; para alguns, a alegria de mostrar seu trabalho ao mundo. O foco da pesquisa foi sucesso financeiro, pois sua definição é mais clara, e porque sabemos que poder escrever em tempo integral e viver da escrita é uma meta comum a muitos escritores. Com isso em mente, dividimos a amostra em dois grups:

AFBS = os que ganham mais de $ 5.000,00 por mês com a venda de seus livros.

AE = os que ganham menos de $ 500,00 por mês com a venda de seus livros.


--> Primeiro achado: Autores financeiramente bem-sucedidos escrevem mais

Em média, os AFBS publicaram 13,75 livros, comparados aos 7,4 dos AE. Isso é dobrar o catálogo! De modo anedótico, podemos verificar isso durante um promoção de livros. Quando você ganha um novo leitor, e ele ama o que leu, ele quase certamente voltará, em busca de tudo o mais que você escreveu. Você ganhará mais dinheiro com um leitor fiel se ele puder comprar 13.75 livros, em vez de 7.4.

Verificamos isso também quando observamos o número total de horas que cada grupo dedica à escrita por semana: 16 para os AE, quase o dobro para os AFBS: 31.

Se você é um AE, a prescrição é simples: escreva duas vezes mais do que vem escrevendo agora, com o objetivo de publicar o dobro de livros. Fácil, né?! (Sabemos que não!) A maioria dos AE têm outros empregos, e têm que espremer a escrita no tempo que sobra.

Apesar de que aumentar o tempo de escrita quando você tem que encaixá-la em meio a todas as suas outras responsabilidades possa ser opressor, não tem que ser assim. A chave é um passinho de cada vez. Pense no quanto escreveu esta semana; então, na semana que vem, tente somar 30 ou 60 minutos extras, até atingir o ponto em que esteja concluindo projetos e publicando-os bem mais depressa. Se seu sonho é viver de escrita, então escrever mais em menos tempos certamente o aproximará de sua meta.

Pode soar cliché, mas é verdadeiro: o que é bom toma tempo. Olhando para o número de anos que precedeu a primeira publicação, para 60% dos AFBS, passaram-se pelo menos três anos de escrita. São anos para encontrar sua voz, construir um público e alcançar seu ritmo. Comparativamente, 69% dos AE estão escrevendo há menos de três anos. Então, lembre-se: leva-se tempo para escrever, burilar e publicar seus livros. Se você não atingir o sucesso no primeiro ano, está tudo bem, é o esperado. A coisa mais importante para se ter em mente? Não desanime!

--> Segundo achado: AFBS têm capas feitas por profissionais.

Já escrevemos bastante sobre design de capas, e continuamos acreditando que uma boa capa é a chave que abre as portas para o potencial de um livro. Dos AFBS pesquisados, 68% gastou mais de $ 100,00 numa capa, comparados a apenas 39% dos AE. Como profissionais de marketing, temos contato com muitas e muitas capas, e sabemos que as profissionais têm desempenho melhor. O preço médio do investimento mais eficaz fica entre $ 100,00 e $ 500,00 -- pode parecer alto, mas com o volume extra de vendas que vai gerar, tende a se pagar em cerca de seis meses.

Tanto para AFBS quanto para AE, a resposta mais comum à pergunta "Quem faz suas capas?" foi "Um profissional." AFBS tendem mais a escolher um profissional que os AE: 63% vs. 44%, mas ambos os grupos tendem a essa direção. O que nos surpreendeu foi que quase 37% dos AE fazem suas capas eles mesmos!, contra apenas 16% dos AFBS. Acreditamos que escrita e design são habilidades bem distintas e devem ser tratadas como tais. Há quem seja bom em ambos? Claro! Mas a maioria não é, e é importante ser honesto quanto às suas reais capacidades. Para algo tão importante quanto a capa, a "cara" do seu livro, é melhor contratar um profissional.

--> Terceiro achado: AFBS contratam editores profissionais.

Os resultados foram claros: uma acachapante maioria de 79% dos AFBS têm seus livros editados por profissionais, contra 56% dos AE. Ainda que você se veja como um editor excelente (e a verdade é que muitos escritores de fato o são), é uma boa ideia ter outro par de olhos no sua obra.

Quanto você planeja pagar por uma edição profissional? Em nossa pesquisa, a maior parte (53%) dos AFBS gastavam entre $100,00 e $ 500,00, e 32% gastavam ainda mais. AE gastam bem menos, sendo que 42% dos AE gastam menos de $ 50,00 -- só 11% dos AFBS gastam tão pouco. Lembre-se de que, assim como a capa, é um investimento que você recuperará em poucos meses com o volume extra de vendas que obterá por oferecer um produto melhor.

--> Quarto achado: AFBS acreditam no poder de oferecer livros gratuitos

A pesquisa nesse ponto é tendenciosa, já que acreditamos piamente na oferta de livros gratuitos como estratégia de marketing. Então não foi uma surpresa, quando apuramos entre os escritores que trabalham conosco, que eles concordam com a tática. Tantos os AFBS quanto os AE acreditam em massa que oferecer livros gratuitos é uma técnica de publicidade eficaz -- 79% e 70%, respectivamente.

--> Quinto achado: AFBS escrevem nos gêneros mais populares

Quanto à diferença entre os gêneros preferidos de AFBS vs. AE, alguns pontos chave emergiram. A prevalência das histórias românticas é o mais notável. Surpreso? Nem nós. Uma percentagem bem maior de AFBS escrevem histórias românticas em compração aos AE. Os mesmo vale para "histórias românticas paranormais" e eróticos. Se agruparmos tudo numa categoria mais ampla de "sub-gêneros romãnticos", vemos que é o que 43% dos AFBS escrevem, vs. 15% dos AE.

Além da ampla dominância do gênero romântico entre os AFBS, há alguns outros pontos. Thrillers e ficção científica também são mais explorados pelos AFBS que pelos AE. E alguns gêneros mal são explorados pelos escritores de sucesso: "ficção literária", infantis, terror e ficção religiosa. Se você planeja um novo livro am alguma dessas searas, saiba que a luta será mais renhida.

--> Conclusões

Esperamos que tenha achado alguns desses resultados úteis, e que eles tenham ajudado a clarear alguns pontos na busca pelo sucesso financeiro como escritor. Achamos os resultados fascinantes, mas não surpreendentes. Não anotou nada? Rola resumo:

--> Tornar-se escritor exige dedicação.
O sucesso só chega depois que você escreveu e publicou um número razoável de livros. Quanto mais tempo você escrever por dia, mais rápido você chega lá.

--> Confie nos profissionais.
É altamente recomendável contratar um editor e um designer de capa para ajudá-lo a criar um bom produto final. Você terá que investir algo entre $ 100,00 e $ 500,00 para cada, mas é um investimento que se paga, porque você venderá mais.

--> Atente-se às estratégias de preços
Oferecer o livro gratuitamente por um período de tempo é ótimo para conquistar novos leitores. Se escrever uma série, considere deixar o primeiro volume gratuito permanentemete.

--> O gênero escolhido importa
Alguns gêneros são mais populares que outros. Preste atenção à posição de seu gênero nas listas de mais vendidos. Se você escreve literatura de nicho, saiba que nicho significa "poucos", o que torna mais difícil fazer dinheiro.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

11 curiosidades sobre 'The Lottery', um dos contos mais controversos já publicados pela revista 'The New Yorker':



Em seis de junho de 1948, os assinantes da revista ‘The New Yorker’ receberam um número da revista pelos correios. Nada havia na capa que indicasse que era um número diferente ou mais respecial que os outros. Mas, em seu interior, havia um conto que os editores ainda considerariam, mais de meio século depois, “talvez o conto mais controverso que a ‘The New Yorker’ jamais publicou”: ‘The Lottery’, de Shirley Jackson.
Apesar de hoje ser um clássico, a história sobre um pequeno povoado da Nova Inglaterra cujos residentes seguiam um ritual anual em que sorteavam tirinhas de papel até que um deles fosse escolhido para ser apedrejado até a morte causou um alarido imediato quando publicado, e deu a Jackson notoriedade literária. “Não foi minha primeira história publicada, nem minha última,” a escritora disse numa palestra em 1960, “mas foi-me dito muitas e muitas vezes que, ainda que tivesse sido a única história que eu houvesse escrito e publicado, ainda assim meu nome seria lembrado pelas pessoas.” Aqui, algumas coisas que talvez você não saiba sobre a história:
1. FOI ESCRITA DE UM ESTALO.
Jackson, que vivia em North Bennington, Vermont, escreveu a história num cálido dia de junho, após cumprir algumas incumbências diárias. Ela lembrou mais tarde como a ideia “chegou-me enquanto eu empurrava minha filha em seu carrinho ladeira acima — era, como disse, uma manhã quente, e a ladeira, íngreme; e, além de minha filha, o carrinho levava as compras do dia — talvez o esforço daqueles últimos 50 metros da subida afiaram a história.”
A escrita foi fácil. Jackson compôs o conto em menos de duas horas, fazendo apenas “duas correções mínimas” quando a releu mais tarde — “Senti fortemente que não queria remexer demais ali” — e a enviou a seu agente no dia seguinte. Apesar de ele não ter dado pelota para ‘The Lottery’, enviou-o para a ‘The New Yorker’ ainda assim, pois, conforme disse a Jackson numa nota, seu trabalho era vender a história, não gostar dela.
2. QUANDO A HISTÓRIA CHEGOU À REDAÇÃO, A DECISÃO DE PUBLICÁ-LA FOI QUASE UNÂNIME.
Segundo Ruth Franklin, que está escrevendo uma nova biografia sobre Jackson, houve apenas uma exceção: o editor William Maxwell, que a considerou excessivamente orquestrada. Os demais, no entanto, queriam a publicação. Brendan Gill, um jovem funcionário então, diria mais tarde que ‘The Lottery’ foi “uma das melhores histórias — entre as duas, ou três, ou quatro melhores — jamais publicadas pela revista.”
3. MAS ELES ESTAVAM PERPLEXOS COM AQUELE CONTO.
Mesmo Harold Ross, editor da revista à época, confessou não compreendê-la. Jackson contou que o editor da seção de ficção lhe perguntou se ela tinha uma interpretação para a história, dizendo-lhe que Ross “não estava certo de haver compreendido o conto, e perguntou se eu poderia me alongar em seu significado. Eu disse que não.” Quando o editor perguntou se havia algo que a revista deveria dizer às pessoas que escrevessem ou telefonassem, Jackson mais uma vez respondeu que não: “É só uma história que escrevi.”
4. OS EDITORES PEDIRAM UM PEQUENO AJUSTE.
Os editores pediram permissão para alterar um detalhe: eles queriam que a data da abertura da história coincidisse com a data daquele número — 27 de junho. Jackson concordou.
5. A REPERCUSSÃO FOI IMEDIATA.
‘The lottery’ foi publicado três semanas após a submissão pelo agente de Jackson, e houve uma controvérsia instantânea: centenas de leitores cancelaram a assinatura e escreveram cartas para expressar sua raiva e confusão com a história. Numa dessas cartas, Miriam Friend, uma ex-bibliotecária e então dona-de-casa, escreveu, “Eu confesso estar completamente desorientada com ‘The Lottery’. Você poderia nos dar uma breve explicação antes que meu marido e eu arranquemos todos os cabelos na tentativa de entendê-la?” Outros consideraram-na ‘ultrajante’, ‘pavorosa’, ‘totalmente inútil’. “Nunca mais comprarei ‘The New Yorker’”, escreveu uma leitora de Massachusetts. “Sinto ter sido induzida a ler perversões como ‘The Lottery’. Houve telefonemas também, apesar de a revista não manter registro de quantos foram, nem do que foi dito.
6. JACKSON RECEBEU MUITAS CARTAS...
Jackson disse que 26 de junho de 1948 foi “a última vez em meses em que recebi minha correspondência sem um sentimento de pânico.” ‘The New Yorker’ lhe encaminhava a correspondência que recebiam referente à história — às vezes, dez a doze cartas por dia — , as quais, segundo Jackson, vinham em três sabores: desnorteamento, conjecturas e insultos. Jackson foi forçada a trocar sua caixa de correspondência pela maior do mercado.
Pouco depois da publicação, uma amiga escreveu para Jackson, “Ouvi um homem falando sobre um conto seu no ônibus hoje de manhã. Super empolgante! Quis dizer ao cara que eu conhecia a autora, mas, depois de prestar atenção ao que ele dizia, concluí que era melhor não...”
7. ... ATÉ DE SEUS PRÓPRIOS PAIS.
A mãe de Jackson escreveu-lhe que “Eu e papai não ligamos pra sua história na ‘The New Yorker...’ Parece, querida, que essas histórias macabras são só no que vocês jovens pensam hoje em dia. Por que não escreve algo para animar as pessoas?”
“Eu não imaginava que tantos milhares de pessoas se sentiam tão ultrajados a ponto de sentarem-se para me escrever cartas que eu tinha medo até de abrir,” disse Jackson tempos mais tarde. “Das trezentas cartas esquisitas que recebi naquele verão, apenas treze eram gentis, e a maioria destas foram escritas por amigos.”
Jackson guardou cada uma delas, e atualmente elas estão na Biblioteca do Congresso.
8. HÁ QUEM PENSE QUE A HISTÓRIA NÃO É FICÇÃO.
Jackson recebeu cartas que lhe perguntavam onde aquele ritual acontecia e se poderiam assisti-lo. “Li sobre uns cultos estranhos, mas este me incomoda,” escreveu alguém de Los Angeles. “Esse grupo é descendente dos primeiros colonos ingleses? Estão prosseguindo com rituais drudícos para garantir boas colheitas?” perguntou um leitor do Texas. “Espero que você possa me dar mais detalhes sobre o bizarro ritual que o conto descreve, onde ocorre, quem o pratica, e por quê,” pediu alguém da Geórgia.
Franklin percebeu que, dentre aqueles que foram enganados, estavam Stirling Silliphant, um produtor da Twentieth Century Fox (“Nós todos ficamos sombriamente tocados pela história de Jackson. Foi um puro voo imaginativo, ou tais ritos ainda existem e, se sim, onde?”), e um professor de sociologia em Harvard, Nahum Medali (“É uma história maravilhosa, que me congelou numa manhã quente enquanto a lia”).
Pode parecer estranho tanta gente acreditar que era um relato real, mas, como observa Franklin, “naquele tempo, a ‘The New Yorker’ não separava as histórias de ficção das de não ficção.”
9. A ‘THE NEW YORKER’ TINHA UMA RESPOSTA PADRÃO PARA AS CARTAS REFERENTES A ‘THE LOTTERY’.
Era mais ou menos, “O conto de Miss Jackson pode ser interpretado de muitas maneiras. É uma fábula. Ela escolheu uma pequena vila anônima para mostrar, num microcosmo, como a beligerância, perseguição e vingança são eternas na humanidade; e seus alvos, escolhidos aleatoriamente.”
10. JACKSON ACABOU POR PONDERAR SOBRE O SENTIDO DE 'THE LOTTERY'.
“Explicar o que eu queria que a história dissesse é difícil,” escreveu para o ‘San Franciso Chronicle’ em julho de 1948. “Suponho que esperava, ao descrever um rito brutal no tempo presente, em minha própria vizinhança, chocar os leitores com uma dramatização bastante gráfica da violência sem sentido e falta de humanidade em geral de suas próprias vidas.”
11. A HISTÓRIA FOI ADAPTADA MUITAS VEZES.
Apesar de ser mais famosa por sua presença nas listas de leitura do ensino médio, ‘The Lottery’ já foi adaptada para vários formatos: para o rádio em 1951, para um ballet em 1953, um curta-metragem em 1969 e um filme para a TV, estrelado por Keri Russel, em 1996, que acompanha o filho do personagem assassinado. ‘The Lottery’ também apareceu nos ‘Simpsons’.

Traduzi daqui: http://mentalfloss.com/article/57503/11-facts-about-shirley-jacksons-lottery

terça-feira, 5 de julho de 2016

Sobre o uso da vírgula



Faz tempo que eu estava com vontade de escrever algo sobre isso. Li muitos contos concorrentes ao “Brasil em Prosa" (concurso promovido pela Amazon Brasil em 2015), e vírgulas fora de lugar eram o erro mais recorrente.
Não custa repetir que vírgula nada tem a ver com “indicação de pausa para respirar.” Quando você se comunica oralmente, sem indicações de pausa, você morre asfixiado? Claro que não. Alguém realmente precisa ser lembrado de respirar ao ler um texto? Bem esdrúxula essa ideia. A vírgula, na verdade, existe para evitar ambiguidades, para evitar que o leitor agrupe palavras de um modo que contrarie as intenções de quem escreveu. Por exemplo:
*Se você cozinhar Tatiana lava os pratos.
*Enquanto estávamos comendo uma barata se aproximou de nossa mesa.
Essas duas frases acima causam um estranhamento, nos forçam a reler (atrasando a leitura) na tentativa de apreender o sentido. Porém, se acrescentarmos vírgulas nos locais apropriados (*Se você cozinhar, Tatiana lava os pratos. *Enquanto estávamos comendo, uma barata se aproximou de nossa mesa.), já numa primeira leitura ninguém vai achar que cozinhamos Tatiana ou comemos uma barata. Portanto, o uso da vírgula impede esse agrupamento errado de palavras, acelera a leitura e melhora a compreensão do texto.
Quando e onde usar vírgulas?
Usa-se a vírgula:
1) Para isolar o vocativo:
“Vamos, tesouro, não se misture com essa gentalha!”
2) Para isolar o aposto:
“Escritores ajudando outros escritores”, um grupo de que participo no Facebook, me trouxe algumas amizades.
3) Para isolar o adjunto adverbial e a oração adverbial quando há inversão (vírgula optativa com adjuntos de até duas palavras):
Na capital do Brasil, eu fiz ótimos passeios.
Na Itália come-se bem.
4) No lugar da palavra omitida (elipse):
Eu lavei as panelas; João, os pratos.
5) Para separar os elementos de uma enumeração:
Lá estavam gatos, cachorros, camundongos, aves e outras espécies de animais.
6) Antes de conjunções adversativas (este é um erro clássico: deparo-me mais frequentemente do que gostaria com vírgulas pospostas à conjunção!!!).
Ele vem sempre aqui, mas nunca o vejo. (E não “Ele vem sempre aqui mas, nunca o vejo”.)
Ele é um bom aluno, porém precisa estudar mais gramática. (E não “Ele é um bom aluno porém, precisa estudar mais gramática”.)
7) Para separar orações intercaladas:
Aqueles alunos, confirmou o professor, eram dedicados e responsáveis.
Obs.: Travessões e parênteses também podem cumprir essa função:
Aqueles alunos — confirmou o professor — eram dedicados e responsáveis.
8) Para separar a oração adjetiva explicativa.
Os alunos, que eram dedicados, tornaram-se indolentes.
Veja que a mesma oração sem as vírgulas é possível, mas adquire outro sentido, tornando-se adjetiva restritiva:
Os alunos que eram dedicados tornaram-se indolentes.
9) Para separar as repetições:
Esta comida é ruim, ruim!
10) Para separar as orações coordenadas assindéticas:
Vim, vi e venci.
11) Para separar expressões explicativas ou de correção (aliás, a saber, isto é, por exemplo…):
O filho dele era aluno intercambista em Londres, isto é, era, porque o curso já terminou.
É aconselhável usar a vírgula:
12) Quando a conjunção “e”:
a) Aparece repetida no período:
Comeram, e beberam, e cantaram, e dançaram.
b) Aparece entre orações de sujeitos diferentes:
O tempo estava nublado, e os voos daquele dia foram cancelados.
c) Não tem sentido de adição:
Eu quis ir, e me disseram que era melhor que eu ficasse (o “e” tem valor de conjunção adversativa).
Não se usa a vírgula:
13) Para separar termos que, do ponto de vista sintático, estabelecem diretamente uma ligação entre si:
a) Entre sujeito e predicado:
Os alunos estão todos empolgados com a chegada das férias.
b) Entre o verbo e seus complementos (objeto direto e indireto), mesmo que o objeto indireto se anteponha ao objeto direto:
Entreguei aos alunos as provas corrigidas.
c) Entre o nome e o adjunto adnominal ou o complemento nominal:
Seu colar de pérolas foi muito elogiado.
Você tem amor à causa que defende.
d) Entre a oração subordinada substantiva e a principal.
Seu desejo era que a reunião acabasse logo!
14) Para separar orações adjetivas restritivas:
As mangas que estavam maduras caíram do pé.
15) Após conjunção adversativa:
Passou a manhã no ambulatório, contudo não foi atendida (E não “Passou a manhã no ambulatório contudo, não foi atendida”).




terça-feira, 28 de junho de 2016

Sobre o pronome relativo CUJO



Cujo indica pose. Só. Não há outro sentido possível. Então, você assistiu a um filme do qual você quer falar depois, não cujo você quer falar depois. (Por outro lado, certo é dizer “Um filme cujo título não lembro.”)
Parafraseando a Bella, “Você pode substituir cujo por do qual, por exemplo!” ;)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

ENTREVISTA COM UM ESCRITOR DE RUA

A entrevista abaixo foi publicada em minha página no Facebook em janeiro, portanto, os números já são outros, mas, na essência, é isto aí:

***

Há cinco meses, Eduardo Lages passa seus dias escrevendo na Av. Paulista, enquanto vende seu primeiro livro, "Querido Jaime", do qual já vendeu 700 cópias! Na entrevista abaixo, conversamos sobre sua rotina de autor independente. Aproveite! E inspire-se! ;)
("Querido Jaime" pode ser comprado como e-book no site da Amazon. Para cópias físicas, encontre-se com o autor na Av. Paulista, número 2000, e aproveite para bater um papo! Ou entre em contato com ele pelas redes sociais, que ele envia o livro para todo o Brasil via correios.)


***

ENTREVISTA COM EDUARDO LAGES, ESCRITOR DE RUA

Desde quando você é escritor de rua? Como surgiu essa ideia?
Sou escritor de rua há cinco meses. A ideia surgiu quando vi que seria muito difícil publicar por vias convencionais, então decidi que ia tentar vender meu livro na rua :)

Ainda enquanto escrevia seu primeiro livro, você já planejava vendê-lo nas ruas uma vez que o tivesse concluído?
Quando eu comecei a escrever o livro eu ainda não tinha inventado esse negócio, mas foi rápido até chegar nessa ideia, haha.

Você largou um emprego tradicional, com carteira assinada, para viver exclusivamente dos seus escritos. Sentiu-se inseguro ao tomar essa decisão? Tinha um plano B?
Eu larguei o meu emprego também porque não aguentava mais ele. Eu precisava mudar minha vida, então a literatura me abraçou e foi muito boa comigo. Eu estava com medo no início, mas desde o primeiro dia deu tudo certo, então fui ganhando confiança no que eu estava fazendo. :)

A Avenida Paulista foi apenas uma escolha óbvia, devido ao grande movimento, ou houve outros motivos? Pretende vender seu trabalho em outros pontos?
Eu amo a Paulista, sempre gostei de lá, mas claro que o número de pessoas que passam por lá todos os dias foi um fator primordial pra eu escolher esse ponto.

Conte-nos um pouco sobre como foi seu primeiro dia na Avenida Paulista. Foi bem sucedido, sentiu-se animado?
Meu primeiro dia na Paulista foi cheio de nervosismo e alegria. Fui bem sucedido e vendi bastante, de cara. Foi um dos dias mais esquisitos e felizes de que eu me lembro.

De quanto foi sua tiragem inicial? Esgotou em quanto tempo? Você a financiou com suas próprias economias ou buscou outras fontes, como empréstimo ou financiamento coletivo?
Minha primeira tiragem foi de 100 exemplares, e logo depois que esgotou, mandei fazer 200, e assim foi. Com o dinheiro que arrecado nas vendas, banco a próxima edição e tiro meu lucro.

Num dia bom, quantos livros em média você vende?
Num dia bom, eu vendo 10 livros, em média.

É difícil concentrar-se para escrever em plena Avenida Paulista, e sendo abordado por leitores? A escrita rende?
A escrita rende sim, haha, tem muita referência e inspiração por lá.

As pessoas ficam receosas, tímidas em abordá-lo, ainda mais ao vê-lo escrevendo? Ou o abordam com naturalidade?
Sim, algumas ficam um pouco receosas, mas sempre é muito gostoso o contato.

Você, como tantos jovens autores, e eu me incluo nisso, se autopublicou. Tem gostado da independência de vender diretamente aos leitores, definir o preço de capa, margem de lucro? Vale a pena trocar isso por uma editora tradicional, se tiver a oportunidade?
Eu sou suspeito pra falar. Desde o início queria ser independente, nunca sonhei com editora, nem corri atrás. Então, pra mim, sim, vale super a pena.

Falemos agora de e-books. Seu livro também pode ser encontrado à venda na versão eletrônica pelo site da Amazon. Mas sabemos que no Brasil o livro impresso ainda tem um apelo muito maior junto ao público leitor. Como tem sido sua experiência com e-books? A venda tem sido tão boa quanto a venda de livros físicos?
A venda do e-book está começando a aquecer agora. Os livros físicos ainda vendem muito mais, mas vale a pena ter o livro na Amazon!

Qual a importância da divulgação? Já houve leitores que foram à Paulista exclusivamente para conhecê-lo e adquirir o livro após vê-lo nas redes sociais?
Sim, através da divulgação, muita gente já foi me procurar lá! É muito bacana!