terça-feira, 9 de agosto de 2016

11 curiosidades sobre 'The Lottery', um dos contos mais controversos já publicados pela revista 'The New Yorker':



Em seis de junho de 1948, os assinantes da revista ‘The New Yorker’ receberam um número da revista pelos correios. Nada havia na capa que indicasse que era um número diferente ou mais respecial que os outros. Mas, em seu interior, havia um conto que os editores ainda considerariam, mais de meio século depois, “talvez o conto mais controverso que a ‘The New Yorker’ jamais publicou”: ‘The Lottery’, de Shirley Jackson.
Apesar de hoje ser um clássico, a história sobre um pequeno povoado da Nova Inglaterra cujos residentes seguiam um ritual anual em que sorteavam tirinhas de papel até que um deles fosse escolhido para ser apedrejado até a morte causou um alarido imediato quando publicado, e deu a Jackson notoriedade literária. “Não foi minha primeira história publicada, nem minha última,” a escritora disse numa palestra em 1960, “mas foi-me dito muitas e muitas vezes que, ainda que tivesse sido a única história que eu houvesse escrito e publicado, ainda assim meu nome seria lembrado pelas pessoas.” Aqui, algumas coisas que talvez você não saiba sobre a história:
1. FOI ESCRITA DE UM ESTALO.
Jackson, que vivia em North Bennington, Vermont, escreveu a história num cálido dia de junho, após cumprir algumas incumbências diárias. Ela lembrou mais tarde como a ideia “chegou-me enquanto eu empurrava minha filha em seu carrinho ladeira acima — era, como disse, uma manhã quente, e a ladeira, íngreme; e, além de minha filha, o carrinho levava as compras do dia — talvez o esforço daqueles últimos 50 metros da subida afiaram a história.”
A escrita foi fácil. Jackson compôs o conto em menos de duas horas, fazendo apenas “duas correções mínimas” quando a releu mais tarde — “Senti fortemente que não queria remexer demais ali” — e a enviou a seu agente no dia seguinte. Apesar de ele não ter dado pelota para ‘The Lottery’, enviou-o para a ‘The New Yorker’ ainda assim, pois, conforme disse a Jackson numa nota, seu trabalho era vender a história, não gostar dela.
2. QUANDO A HISTÓRIA CHEGOU À REDAÇÃO, A DECISÃO DE PUBLICÁ-LA FOI QUASE UNÂNIME.
Segundo Ruth Franklin, que está escrevendo uma nova biografia sobre Jackson, houve apenas uma exceção: o editor William Maxwell, que a considerou excessivamente orquestrada. Os demais, no entanto, queriam a publicação. Brendan Gill, um jovem funcionário então, diria mais tarde que ‘The Lottery’ foi “uma das melhores histórias — entre as duas, ou três, ou quatro melhores — jamais publicadas pela revista.”
3. MAS ELES ESTAVAM PERPLEXOS COM AQUELE CONTO.
Mesmo Harold Ross, editor da revista à época, confessou não compreendê-la. Jackson contou que o editor da seção de ficção lhe perguntou se ela tinha uma interpretação para a história, dizendo-lhe que Ross “não estava certo de haver compreendido o conto, e perguntou se eu poderia me alongar em seu significado. Eu disse que não.” Quando o editor perguntou se havia algo que a revista deveria dizer às pessoas que escrevessem ou telefonassem, Jackson mais uma vez respondeu que não: “É só uma história que escrevi.”
4. OS EDITORES PEDIRAM UM PEQUENO AJUSTE.
Os editores pediram permissão para alterar um detalhe: eles queriam que a data da abertura da história coincidisse com a data daquele número — 27 de junho. Jackson concordou.
5. A REPERCUSSÃO FOI IMEDIATA.
‘The lottery’ foi publicado três semanas após a submissão pelo agente de Jackson, e houve uma controvérsia instantânea: centenas de leitores cancelaram a assinatura e escreveram cartas para expressar sua raiva e confusão com a história. Numa dessas cartas, Miriam Friend, uma ex-bibliotecária e então dona-de-casa, escreveu, “Eu confesso estar completamente desorientada com ‘The Lottery’. Você poderia nos dar uma breve explicação antes que meu marido e eu arranquemos todos os cabelos na tentativa de entendê-la?” Outros consideraram-na ‘ultrajante’, ‘pavorosa’, ‘totalmente inútil’. “Nunca mais comprarei ‘The New Yorker’”, escreveu uma leitora de Massachusetts. “Sinto ter sido induzida a ler perversões como ‘The Lottery’. Houve telefonemas também, apesar de a revista não manter registro de quantos foram, nem do que foi dito.
6. JACKSON RECEBEU MUITAS CARTAS...
Jackson disse que 26 de junho de 1948 foi “a última vez em meses em que recebi minha correspondência sem um sentimento de pânico.” ‘The New Yorker’ lhe encaminhava a correspondência que recebiam referente à história — às vezes, dez a doze cartas por dia — , as quais, segundo Jackson, vinham em três sabores: desnorteamento, conjecturas e insultos. Jackson foi forçada a trocar sua caixa de correspondência pela maior do mercado.
Pouco depois da publicação, uma amiga escreveu para Jackson, “Ouvi um homem falando sobre um conto seu no ônibus hoje de manhã. Super empolgante! Quis dizer ao cara que eu conhecia a autora, mas, depois de prestar atenção ao que ele dizia, concluí que era melhor não...”
7. ... ATÉ DE SEUS PRÓPRIOS PAIS.
A mãe de Jackson escreveu-lhe que “Eu e papai não ligamos pra sua história na ‘The New Yorker...’ Parece, querida, que essas histórias macabras são só no que vocês jovens pensam hoje em dia. Por que não escreve algo para animar as pessoas?”
“Eu não imaginava que tantos milhares de pessoas se sentiam tão ultrajados a ponto de sentarem-se para me escrever cartas que eu tinha medo até de abrir,” disse Jackson tempos mais tarde. “Das trezentas cartas esquisitas que recebi naquele verão, apenas treze eram gentis, e a maioria destas foram escritas por amigos.”
Jackson guardou cada uma delas, e atualmente elas estão na Biblioteca do Congresso.
8. HÁ QUEM PENSE QUE A HISTÓRIA NÃO É FICÇÃO.
Jackson recebeu cartas que lhe perguntavam onde aquele ritual acontecia e se poderiam assisti-lo. “Li sobre uns cultos estranhos, mas este me incomoda,” escreveu alguém de Los Angeles. “Esse grupo é descendente dos primeiros colonos ingleses? Estão prosseguindo com rituais drudícos para garantir boas colheitas?” perguntou um leitor do Texas. “Espero que você possa me dar mais detalhes sobre o bizarro ritual que o conto descreve, onde ocorre, quem o pratica, e por quê,” pediu alguém da Geórgia.
Franklin percebeu que, dentre aqueles que foram enganados, estavam Stirling Silliphant, um produtor da Twentieth Century Fox (“Nós todos ficamos sombriamente tocados pela história de Jackson. Foi um puro voo imaginativo, ou tais ritos ainda existem e, se sim, onde?”), e um professor de sociologia em Harvard, Nahum Medali (“É uma história maravilhosa, que me congelou numa manhã quente enquanto a lia”).
Pode parecer estranho tanta gente acreditar que era um relato real, mas, como observa Franklin, “naquele tempo, a ‘The New Yorker’ não separava as histórias de ficção das de não ficção.”
9. A ‘THE NEW YORKER’ TINHA UMA RESPOSTA PADRÃO PARA AS CARTAS REFERENTES A ‘THE LOTTERY’.
Era mais ou menos, “O conto de Miss Jackson pode ser interpretado de muitas maneiras. É uma fábula. Ela escolheu uma pequena vila anônima para mostrar, num microcosmo, como a beligerância, perseguição e vingança são eternas na humanidade; e seus alvos, escolhidos aleatoriamente.”
10. JACKSON ACABOU POR PONDERAR SOBRE O SENTIDO DE 'THE LOTTERY'.
“Explicar o que eu queria que a história dissesse é difícil,” escreveu para o ‘San Franciso Chronicle’ em julho de 1948. “Suponho que esperava, ao descrever um rito brutal no tempo presente, em minha própria vizinhança, chocar os leitores com uma dramatização bastante gráfica da violência sem sentido e falta de humanidade em geral de suas próprias vidas.”
11. A HISTÓRIA FOI ADAPTADA MUITAS VEZES.
Apesar de ser mais famosa por sua presença nas listas de leitura do ensino médio, ‘The Lottery’ já foi adaptada para vários formatos: para o rádio em 1951, para um ballet em 1953, um curta-metragem em 1969 e um filme para a TV, estrelado por Keri Russel, em 1996, que acompanha o filho do personagem assassinado. ‘The Lottery’ também apareceu nos ‘Simpsons’.

Traduzi daqui: http://mentalfloss.com/article/57503/11-facts-about-shirley-jacksons-lottery

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