sexta-feira, 12 de agosto de 2016

QUANDO UM GÊNIO AUTODECLARADO LHE PEDE QUE VOCÊ LEIA SUA OBRA-PRIMA

Comecei a traduzir este texto, mas o bichinho é comprido e bateu uma preguiça. Não sei quando continuo, mas deixo aqui para usufruírem do que traduzi até agora (o link do texto original também segue abaixo):

***


Acho que quase todo escritor que já tenha publicado um livro recebe e-mails ocasionais de estranhos pedindo-lhe que leia a obra-prima deles. Se você for um escritor empregado num departamento de inglês, só piora. Alguns desses estranhos presumem que professores de inglês são juízes amiguinhos em algum "American Idol" literário, ansiosos para ler o próximo candidato. Além de seu e-mail ser mais facilmente encontrado. Geralmente tendo responder com algumas palavrinhas as mais generosas possíveis. No entanto, algumas vezes... Como uns dias atrás. Um escritor chamado Alan (não citarei seu sobrenome, apesar de ele ser louco por atenção) me enviou um link para seu troço autopublicado, com um P.S.: "Não se constranja em ignorar meu trabalho, mas esteja preparado para pagar um preço que você nem imagina."
"Querido Alan," respondi, tão generosamente quanto pude, "desculpe-me, mas não me lembro de onde nos conhecemos. Por isso estou intrigado por seu P.S. Não estou ignorando nada, mas há muito mais livros a ler do que é possível. Quando eu estiver em dia com meus alunos, meus prazos, e os escritos de meus amigos próximos, darei uma olhada no seu."
Alan não sossegou. "Sua categoria profissional," ele respondeu, "tem preferido enterrar a cabeça na areia e se recusado a reconhecer meu gênio literário/criativo e/ou a ultrajante estupidez pedagógica que vocês todos implicitamente apoiam. Em qualquer dos casos, saiba que você deve refletir sobre o preço deste comportamento. Um dia as pessoas saberão que sua profissão é ou inacreditavelmente inepta e/ou ultrajantemente desonesta. Em qualquer dos casos, isso se traduzirá numa crise para as ciências humanas para a qual você provavelmente não está preparado. Então, esteja avisado. E perceba que eu continuarei a trabalhar para trazer à tona este cenário desagradável e indesejável."
Eu sei que o certo a se fazer num tal cenário é, claro, nada, mas eu não estava brincando quando disse a Alan que há trabalhos de amigos com os quais preciso ficar em dia. Então decidi conjugar minha correspondência com minhas responsabilidades de leitura.
"Querido Alan,
"Você está me trollando, mas morderei a isca. Presumo que você é um escritor que se sente subestimado por professores de inglês. Saiba que não sou um professor de inglês tradicional -- minha formação é em História Americana. Minha "profissão", se assim pudermos chamar, é "escritor", a mesma que a sua. Você escreve, eu escrevo. Você parece indignado por eu não ler o seu trabalho; você não menciona se leu os meus; e não parece dar-se conta que há mesmo outros autores, além de você -- além de mim! -- dignos de leitura.
"Por exemplo, escritores jovens, estudantes, para os quais não raro sou o único leitor. Você poderia rebater, "Claro, mas esses jovenzinhos são privilegiados, podem custear uma faculdade." Ok. Mas lê-los é o que me garante poder me custear. Afora o bônus de ser prazeroso, em parte por tão poucos deles perceberem a própria genialidade. Eles em geral são gratos por terem um -- único -- leitor, mesmo às vezes lento, por procrastinar respondendo a e-mails sem noção de desconhecidos.
"Outra categoria de escritores que vale a pena ler: amigos. "Oh, que joinha," você poderá dizer, "uma panelinha de escritores já bem estabelecidos." Sim. Mas nem sempre fomos "bem estabelecidos", e, na verdade, exceto para os mais famosos ou mais satisfeitos consigo mesmos, ser "bem estabelecido" -- publicado, às vezes pago -- não significa que não dependamos da validação de amigos quando atiramos um novo trabalho no abismo das palavras públicas."
(A CONTINUAR).


Daqui: http://lithub.com/when-a-self-declared-genius-asks-you-to-read-his-masterpiece/

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